segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Dimensão Experimental temporada no teatro Bruno Kiefer nos dias 5 e 6 de novembro.





Gostariamos de agradecer ao público que prestigiou a apresentação de sábado na sala de cinema Paulo Amorim da CCMQ do projeto "Música, Cinema e Memória" convidando-os para conferir o show "O Mito do Eterno Retorno" em novembro no teatro Bruno Kiefer.





Foto: Daniel Faillace Vieira


Foto: Arthur Castilhos

Nos dias 05 e 06/11/2010 ás 21 horas, o grupo Dimensão Experimental tem temporada no Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mário Quintana, apresentando o espetáculo "O Mito do Eterno Retorno" baseado no livro do escritor romeno e historiador das religiões Mircea Eliade. O show conta com projeção sob tela de várias peliculas (incluindo imagens de Porto Alegre) que reforçam a tematica e o conceito não só da obra de Eliade, mas também convida o espectador a uma reflexão sobre o tempo e as emoções humanas, contrastando o passado com o presente, resgatando um pouco da magia do cinema mudo. O espetáculo traz também como um atrativo a mais a performace musical do filme H2O produzido em 1929 pelo diretor vanguardista americano Ralph Steiner. Este filme é um dos 5 curtas da era avant-garde que fazem parte do projeto autoral do grupo Dimensão Experimental "Música, Cinema e Memória", performados ao vivo em 25 de setembro passado na sala de cinema Paulo Amorim, como parte da programação de aniversário de 20 anos CCMQ . No roteiro músicas do CD homônimo e temas novos.

Como reflexão incluimos um texto de Alexandre Pomar sobre o trabalho do fotógrafo e artista plástico português José M Rodrigues que se aproxima da estética e da propósta do grupo Dimensão Experimental.

"A dimensão experimental pode ser uma evocação ou assimilação das vanguardas históricas (a homenagem a Man Ray, por exemplo), enquanto ruptura com produções conformistas. Não é, no entanto, e felizmente, o neovanguardismo como paródia triste de a reapropriação de uma retórica política (dita vanguardista) que em geral recobre práticas ensimesmadas numa sequência do formalismo mais exangue em versão conceptualmente auto-referencial (a arte sobre a definição do reducionismo estético). O princípio abstracto da indistinção entre a arte e da vida - que é tantas vezes uma petição de princípio vanguardista, ou uma legitimação de objectos indiferentes - é aqui substituído por uma real dimensão autobiográfica: os retratos das mulheres, dos filhos, etc. E em especial por uma dimensão performativa que inclui a acção colectiva, a encenação e a precaridade ou desaparição dos objectos produzidos". Alexandre Pomar

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Dimensão Experimental - "Música, Cinema e Memória" na "Virada Cultural" CCMQ

Foto Daniel Faillace Vieira


Cartaz Daniel Faillace Vieira

Anemic Cinema de Marcel Duchamp - 1926

Programção da Virada Cultura na CCMQ


Foto Arthur Castilhos

Cartaz promcional da Virada Cultural

A partir dás 20 horas desta sexta feira (24/09/2010) até ás 20 horas do sábado
(25/09/2010) vai acontecer a festa de aniversário de 20 anos da Casa de Cultura Mário Quintana, denomonada "Virada Cultural". Serão 24 horas com diversas atividades culturais como: dança, música, cinema, teatro, artes plásticas entre outras.
O grupo Dimensão Experimental vai participar com o projeto de sua autoria chamado "Música, Cinema e Memória" que pretentde resgatar um pouco da magia do cinema mudo musicando ao vivo 5 filmes da era avant-garde dos anos 20 do século passado. Os cineastas escolhidos são Man Ray, Marcel Duchamp, Ralph Steiner, Alvin Knechetn e Farnand Léger. Após a projeção dos filmes e da performance musical ao vivo vai acontecer a palestra do cineasta Yury Hendrik que falará da importância histórica deste movimento cultural quase centenário. Maiores informações conferir as matérias anteriores sobre o projeto "Música, Cinema e Memória".

sábado, 18 de setembro de 2010

Dimensão Experimental - "Música, Cinema e Memória"



Casa de Cultura Mário Quintana

H2O de Ralph Steiner


Anemic Cinema de Marcel Duchamp






Fotos Dimensão Experimental shows Arthur Castilhos






Fotos do Dimensão Experimental Daniel Faillace Vieira

No próximo sábado dia 25/09/2010 o grupo Dimensão Experimental participará da "Vira Cultural" promovida pela Casa de Cultura Mário Quintana em comemoração aos seus 20 anos. O Dimensão Experimental vai estreiar o projeto "Música, Cinema e Memória" ás 18 horas na sala de cinema Paulo Amorim com entrada franca.

"MÚSICA, CINEMA E MEMÓRIA"

Para grande parte do público, cinema experimental soa como coisa distante, inacessível. Uma experiência para iniciados. O projeto “Musica Cinema e Memória” de autoria do grupo de música instrumental Dimensão Experimental em parceria com a Casa de Cultura Mário Quintana (CCMQ) vai provar que esta é uma idéia equivocada, afinal, descobrir novas possibilidades da linguagem cinematográfica é tarefa que tem acompanhado os criadores do cinema desde os primeiros tempos. Em 1911, o poeta e jornalista italiano Ricciotto Canuto, amigo de Apollinaire, Braque e Fernand Léger, publicou uma espécie de panfleto intitulado Manifesto das Sete Artes, no qual defendia, para a chamada ‘sétima arte’, total autonomia da narrativa da literatura e do teatro. O cinema, para Canuto, não usava a ‘camisa-de-força’ do roteiro. Deveria ser uma experiência livre, tanto em sua abordagem artística quanto no conteúdo.

O AVANT-GARDE

Após a Primeira Guerra Mundial, a intranqüilidade econômica, política e social fragmentou os pontos de vista tradicionais, possibilitando a formação de um terreno fértil no plano cinematográfico.
O crítico e escritor Louis Delluc evidenciava na França o descontentamento com filmes comerciais, enquanto os artistas de vanguarda começavam a se interessar pela linguagem cinematográfica.
”Nos dez anos compreendidos entre 1921 e 1931, desenvolveu-se um movimento artístico independente na cinematografia. Este movimento denominou-se Avant-Garde... Este movimento de arte em filme foi paralelo a movimentos nas artes plásticas tais como o Expressionismo, o Futurismo, o Cubismo e o Dadaísmo. Foi não comercial, não representacional, mas internacional”. (Hans Richter in Art and Cinema, 1947).
Foram vários os cineastas que produziram cinema de vanguarda neste período e alguns traços marcantes destacamos: o evidente interesse em não agradar nem lisonjear o gosto do público; desejo de criar algo novo a qualquer preço virando as costas a toda a tradição literária e artística; menosprezo do argumento e do enredo, em benefício da livre fantasia e da divagação poética eximida de todo imperativo estético ou moral e a busca de um surrealismo irredutível ao mundo da inteligência, da lógica e da clara consciência, que nascerá de uma utilização da linguagem cinematográfica destinada a criar o insólito. Os filmes de Avant-Garde foram algumas vezes denominados de “cinema absoluto” ou de “cinema puro” devido sua ênfase nos valores rítmicos e estéticos.
A partir de 1930, surge uma conjuntura política de regimes totalitários que defende ideais conservadores extremamente hostis a todo movimento de vanguarda. Tais governos vão encarar o Avant-Garde como uma forma degenerada de arte e muitos vão chegar a censurar as obras e perseguir os realizadores. Além disso, as amargas realidades da depressão econômica forçavam os artistas a engajarem-se sociológica e politicamente. Portanto, as perspectivas da arte de vanguarda tornam-se remotas e sombrias, fazendo com que alguns criadores abandonassem a cinematografia ou realizassem filmes de caráter comercial, migrassem para a América, ou tornarem-se clandestinos.

FILMES
(com músicas compostas e interpretadas ao vivo pelo grupo Dimensão Experimental)

Os filmes e autores escolhidos que tiveram matérias públicadas no blog são os seguintes:

“Le Retour à La Raison” (1923) 2 min. – Man Ray

“Ballet Mécanique” (1924) 11 min. – Fernand Léger

“Cockeyed” (1925) – 3 min. – Alvin Knechte

“Anemic Cinema” (1926) 6 min. – Marcel Duchamp

“H 2 O” (1929) – 12 min. – Ralf Steiner

OBJETIVO

A intenção do Grupo Dimensão Experimental é oferecer ao espectador através de composições contemporâneas próprias a possibilidade do contato com um dos movimentos mais criativos que se produziu na história do cinema em seus primórdios, através de filmes até pouco tempo inéditos ou desconhecidos para o publico, em sua maioria, resgatando um pouco da magia do cinema mudo, musicando alguns dos clássicos do cinema avant-garde dos anos 20.
O projeto também contempla, após a projeção dos filmes e performance musical, a realização de um debate sobre a importância histórica do cinema avant-garde, com pessoas especializadas em cinema, história do cinema (historiadores, jornalistas, antropólogos, cineastas...) contextualizando-o, tendo como uma das pautas a influência da vanguarda no cinema, contrastando o passado com o presente, em especial as diferenças de paradigma da época em que eclodiu, quando as utopias e a revolução estavam na ordem do dia em contraposição com o momento atual em que estas mesmas utopias parecem esvaziadas com o objetivo de avaliar as perspectivas de um cinema experimental na atualidade por ocasião das novas tecnologias (cinema tridimensional, digital etc.).

DIMENSÃO EXPERIMENTAL

Com uma atmosfera sonora que busca combinar a tecnologia e acústica, o grupo Dimensão Experimental tem como proposta musical a fusão do erudito e o popular com o jazz e o rock progressivo-experimental criando com isto uma estética própria, através de seqüências harmônicas por vezes pouco convencionais servindo-se como complemento, de películas e imagens digitalizadas, podendo ser uma evocação ou assimilação das vanguardas históricas, enquanto ruptura com produções conformistas contrastando passado e presente por meio das diversas formas de expressão cultural do homem, de lado a lado com o tempo e o cotidiano.
O grupo Dimensão Experimental foi criado em setembro de 1991 e o nome do foi inspirado no titulo do filme avant-garde / experimental do cineasta americano Dwinnel Grant “Three Dimensional Experiments” de 1945. Ao longo de sua história o grupo Dimensão Experimental realizou vários trabalhos destacando-se seu álbum estréia “A Dimensão Experimental” (1993), as trilhas sonoras dos documentários “Porto Alegre” (1993), “Taím, um Paraíso Ecológico” (1994), “Torres” (1995) e “55 Anos do Sesi” (2002) produzidos pela extinta Vídeo – Puc. Participou de vários projetos culturais promovidos pela prefeitura de Porto Alegre como “Musica Instrumental no Gasômetro”, “Fim de Tarde” entre outros se apresentando em vários palcos da capital como: Teatro de Câmara Túlio Piva, Sala Radamés Gnatalli, Teatro Renascença, e Terraço de Usina do Gasômetro.
Em 2009, lançou o vídeo All Wright (uma homenagem ao tecladista do Pink Floyd, Rick Wright) e o seu mais novo CD “O Mito do Eterno Retorno” apresentando-se ao vivo na Sala Álvaro Moreyra, no Teatro Carlos Carvalho (“36 Horas de Cultura” promovido pela CCMQ), bem como nos projetos “Viver e Inspirar Cultura – Arte para Elis” na Sala-acervo Elis Regina (09/05/2010) e “Musica Instrumental” no Teatro Carlos Carvalho (06/07/2010), ambos promovidos pela CCMQ.
Pesquisa e texto: Klaus Farina – Historiador, Músico, Compositor e Produtor Cultural.

Discografia Independente:

A Dimensão Experimental - 1993
Trilhas - 1995 (inclui as trilhas sonoras dos documentários de Porto Alegre, Taím e Torres)
Sons, Colagens e Performances Variadas (ao vivo) - 1997
55 Anos do SESI - 2002
O Mito do Eterno Retorno - 2009

ROTEIRO DO PROJETO “MÚSICA, CINEMA E MEMÓRIA”

FILME / APRESENTAÇÃO AUTOR MÚSICAS
1 - Apresentação do filme por Yury Hendrik
2 - Le Retour à La Raison - 2 min. - 1923 de Man Ray.
Música: Le Retour à La Raison (Farina/Sabóia)
3 - Apresentação do filme por Yury Hendrik
4 - Cockeyed – 3 min. - 1925 de Alvin Knechten.
Música: *Naylamp (Farina/Sabóia/Schmitt)
5 - Apresentação do filme por Yury Hendrik
6 - H2O – 12 min. - 1929 de Ralph Steiner.
Músicas: Akvo (Farina/Sabóia) e *All Wright (Farina)
7 - Apresentação do filme por Yury Hendrk
8 - Ballet Méchanique – 11min - 1924 de Fernand Léger.
Músicas: Imago Mundi (Farina) e O Sagrado e o Profano (Farina)
9 - Apresentação do filme por Yury Hendrik
10 - Anémic Cinèma – 6 min. - 1926 de Marcel Duchamp.
Música: *Fórum Social Mundial (Farina)
11 - Palestra com o Cineasta Yury Hendrik sobre a importância do cinema avant-garde dos anos 20 do séc. XX.

• * Músicas do álbum “O Mito do Eterno Retorno” do grupo Dimensão Experimental
• Performance musical do grupo Dimensão Experimental constituído por:
• Álvaro Sabóia – Teclados e Gaita de Boca
• Cláudio Schmitt – Teclados e Guitarra
• Klaus Farina – Teclados, Guitarra, Flauta e Programação Eletrônica.
• Palestrante: Yury Hendrik (cineasta)
• Fotografia do grupo Dimensão Experimental: Daniel Faillace Vieira
• Projeto de autoria do grupo Dimensão Experimental
• Músicas compostas e arranjadas pelo grupo Dimensão Experimental
• Produção e Direção: Dimensão Experimental
• Produção Executiva: Álvaro Sabóia e Klaus Farina
• Edição de imagem: Mauro Amaral, Érico Moraes e Klaus Farina
• Direção Geral e Pesquisa Histórica : Klaus Farina
• Apoio: Casa de Cultura Mário Quintana e Claus Farina Cia LTDA
• Contatos:
• www.dimensaoexperimental.blogspot.com
• E-mail: clausfarina@yahoo.com.br
• Fones: 51 84294457 ou 51 33325412

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Dimensão Experimental "Música, Cinema e Memória" - Ralph Steiner


Finalizando as matérias sobre os filmes e os cineastas que terão suas obras performadas musicalmente ao vivo pelo grupo Dimensão Experimental no projeto autoral "Música, Cinema e Memória" no próximo dia 25/09/2010 (sábado) ás 18 horas na sala de cinema Paulo Amorim no andar térrreo da Casa de Cultura Mário Quintana (com entrada franca), hoje vamos conhecer um pouco da obra H2O e de seu autor Ralph Steiner.






Ralph Steiner (08 de fevereiro de 1899 - 13 de Julho de 1986) foi um americano fotógrafo , documentarista pioneiro e uma figura-chave entre os cineastas de vanguarda nas décadas de 1920 e 30. Nascido em Cleveland , Steiner estudou química em Dartmouth , mas em 1921 entrou no Clarence H. White School of Modern Photography. White Steiner ajudou a encontrar um emprego na Empresa Fotogravura Manhattan, e Steiner trabalhando em tornar Fotogravura de placas em cenas de Robert Flaherty Nanook do Norte . Pouco tempo depois, o trabalho de Steiner como um fotógrafo freelance em Nova York começou, trabalhando principalmente em publicidade e para publicações como "Ladies Home Journal . Através do incentivo do colega fotógrafo Paul Strand , Steiner se juntou à Liga de centro-esquerde Fotografica por volta de 1927.
Em 1929, Steiner fez seu primeiro filme, H2O , uma evocação poética da água que capturou a padrões abstratos gerados por ondas. Embora não tenha sido o único filme do gênero na época - Joris Ivens fez Regen (Chuva) no mesmo ano, e Henwar Rodekiewicz trabalhou no retrato filme de água de um Jovem (1931) através de todo este período, ele fez uma impressão significativas no seu dia e desde que passou a ser reconhecida como um clássico: H2O foi adicionado ao National Film Registry em dezembro de 2005. Entre outros de Steiner primeiros filmes, Surf e Algas (1931) amplia o conceito de H2O como Steiner transforma sua câmera para o litoral; Mecânica Principles (1930) era uma abstração baseada em engrenagens e máquinas.
Em 1930, Steiner se juntou ao corpo docente do chamado Harry Alan Potamkin Film School, que deixou pouco antes da morte Potamkin em 1933, onde conheceu Leo Hurwitz , e inspirado por "ideias Hurwitz de utilizar o cinema como um meio de ação social, à esquerda através do o filme e e defotografias, juntando-se a Nykino, uma coalizão de Nova York com base em um cinema de esquerda mostrado em noticiários o trabalhador em comícios, convenções e durante as greves. Poucos desses filmes sobreviveram. Durante esse tempo, Steiner também trabalhou em alguns tópicos, "de ficção" sátiras de filmes, incluindo Pie in the Sky (1935), os primeiros filmes a envolver os talentos de Elia Kazan .
Steiner trabalhou, ao lado de Strand, Hurwitz e Paul Ivano como um cineasta de Pare Lorentz " O arado que quebrou o Plains ( 1936 ) e também se juntou Lorentz em The River ( 1938 ), mas não recebe o crédito. Embora Steiner tenha permanecido com Nykino, iniciou a sua transição para a Frontier Films ,onde ele deixou em 1938, as filmagens de A Cidade (1939) com ele. A cidade, que Steiner co-dirigido com Willard Van Dyke e com música original de Aaron Copland , abriu na Feira Mundial de Nova York em 1939 e funcionou por dois anos.
Apesar de seu desdém próprio declarado de Hollywood e os sentimentos compartilhados de seus colegas, na década de 1940 Steiner foi para Hollywood para trabalhar como escritor e produtor, mas retornou a Nova York depois de apenas quatro anos. Então, ele mergulhou de volta ao mundo de freelance e fotografia de moda, trabalhando para a Vogue , entre outros antes de se aposentar em 1962. Steiner, em seguida, estabeleceu-se em Vermont, onde passava os verões em uma ilha do Maine.
As fotografias de Steiner são notáveis por seus ângulos estranhos, abstração e, por vezes abordando assuntos bizarros. Seus filmes experimentais, no entanto, são considerados centrais para a literatura do início de cinema de vanguarda norte-americano, e a influência do estilo visual de Ralph Steiner continua a afirmar-se, por exemplo, contemporâneo e vanguardista cineasta Timoleon Wilkins Steiner cita como uma inspiração. (fonte Wikipédia inglesa)

“H 2 O” (1929) – 12 min. – Ralf Steiner

Ralph Steiner (1899-1986), fotógrafo americano e cineasta. Após sua graduação 1921 do Dartmouth College, onde aprendeu técnicas de fotografia, Steiner se mudou para New York e estudou na Clarence H. White School of Photography. Cada vez mais socialmente engajado, Steiner voltou-se para um estilo de documentário mais realista. A mudança é particularmente evidente em seus filmes: o resumo do estudo inicial de água e luz, H 2 O (1929). Um filme rápido e experimental composto em torno do tema da água em todas as suas formas. Um estudo clássico das amostras de luz e texturas sobre a superfície da água Como um tipo de poema cinematográfico enfatizando o ritmo e alterações através das qualidades visuais das imagens e da estrutura da edição. Quando o cineasta move a câmera mais próxima da superfície reflexiva, as imagens tornam-se mais abstratas e visualmente dramáticas. Esta concentração de padrões de movimento, sombreamento e textura fazem de H 2 O uma obra prima. Por Klaus Farina - Músico, Historiador e Produtor Cultural.

O crítico e historiador do cinema Luiz Santiago, apresenta uma interessante analise do trabalho de Ralph Steiner em H2O demonstrando o quanto esta obra influenciou em termos temáticos o cinema atual (a questão do meio ambiente)quanto ao uso criativo das novas tecnologias (cinema digital, tridimensional..).

"O final do século XX evidenciou uma preocupação que se tornaria a fonte dos “sinais dos tempos” da escatologia apocalíptica e das idades míticas de nosso século: a questão ambiental. O futuro da humanidade passou a ser especulado por teóricos, profetas, descobridores de profecias antigas, especialistas das mais diversas áreas, produtores de cinema, e cineastas. Um subgênero dos filmes de ação, o Desastre, ganhou novas dimensões, principalmente após as impensáveis possibilidades da tecnologia CGI (imagens geradas por computador). Filmes como O dia depois de amanhã (2004), 2012 (2009) e Avatar (2009), são reflexos dessa Era-Catástrofe que trouxe para o cinema um renovatio das ideias sobre o futuro da humanidade.
Dentre os muitos recursos naturais essenciais à vida, a água é uma das grandes preocupações imediatas. A crescente poluição de rios, lençóis freáticos, etc., é material de inúmeros artigos, palestras, conferências. Nesse contexto, o curta-metragem H2O (1929) de Ralph Steiner – também fotógrafo e publicitário – cai como uma luva nas mãos desses “últimos tempos”.
Ângulos incríveis e manipulação de imagens para dar a sensação de movimento, são as colunas formais do filme. No sentido heraclitiano da palavra, o filme de Steiner flui do começo ao fim, e quanto mais perto chega do final, essa fluidez se torna agressiva, cansa os olhos, tamanha a velocidade que a edição propicia, e tamanho o poder visual do movimento das águas, criado pelo diretor.
Tudo no filme está cercado pela água corrente, a personagem principal. Essa “vida” da água, enriquece de significados o que se passa na tela. O resultado do produto fílmico é de uma fatal beleza incômoda. Ver esse curta-metragem hoje, em 2010, é quase um ataque pessoal: “Olha como era a vida 81 anos atrás”. Impossível não pensar na caótica situação ambiental de hoje.
H2O é um filme-ensaio fotográfico sobre um dos nossos maiores bens naturais, e acima de tudo, um filme incrivelmente simples, que ganha forma estelar nas experimentações visuais feitas por Ralph Steiner. Obrigatório para amantes do primeiro cinema, ou partidários da causa ambiental".
Por Luiz Santiago.

Filmografia:

H2O (1929; cinematographer/director)
Mechanical Principles (1930; cinematographer/director)
Surf and Seaweed (1931; cinematographer/director)
Panther Woman of the Needle Trades, or The Lovely Life of Little Lisa (1931; cinematographer/director)
Pie in the Sky (1935; cinematographer/co-director)
Cafe Universal (1936; cinematographer/director)
Granite (1936; cinematographer/director)
Harbor Scenes (1936; cinematographer/director)
Hands (1936; cinematographer/co-director)
The World Today: Black Legion (1936; cinematographer/co-director)
The World Today: Sunnyside (1936; cinematographer/co-director)
The Plow That Broke the Plains (1936; cinematographer)
People of the Cumberland (1937; cinematographer)
The River (1938; cinematographer)
The City (1939; cinematographer/co-director)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dimensão Experimental "Música, Cinema e Memória" - Marcel Duchamp







O grupo Dimensão Expérimental tem trabalhado com uma proposta que visa resgatar um pouco da magia do cinema mudo através da associação da música como o cinema. Esta associação, unindo-se ao conceito de memória como uma forma de resgate do passado contrastado com o presente, deu origem ao projeto "Música, Cinema e Memória" que não se restringe apenas a uma performance musical dos filmes escolhidos, mas propõe também uma discussão sobre o tema das vanguardas na atualidade. Será que ainda podemos nos referir a esse termo da maneira como habitualmemte era tratado, sendo neste caso algo superado? Ou será possivel que uma uma nova forma de vanguarada ainda que não plenamente identificada pode estar surgindo não só cinema mas nas artes em geral. Se assim for, devemos nos perguntar como poderia ser esta nova vanguarda e que tipo de paradiga ela poderá propor. Este entre outros temas serão abordados pelo palestrante Yury Hendrik (cineasta) no projeto "Música, Cinema e Memória" que no próximo dia 25/09/2010 (sábado) acontecerá na Sala de Cinema Paulo Amorim na Casa de Cultura Mário Quintana ás 18 horas com entrada franca. A apresentação dos filmes, performance musical e palestra promovida pelo grupo Dimensão Experimental faz parte da festa de aniversário de 20 anos da CCMQ.
Na série de filmes e diretores que temos apresentado nas matérias, hoje vamos falar um pouco sobre a obra de Marcel Duchamp e de seu filme "Anemic Cinema".

“Anemic Cinema” (1926) 6 min. – Marcel Duchamp

O primeiro filme de Marcel Duchamp “Anemic Cinema” (1926), cujo título brinca com as letras da palavra cinema, põe em movimento esferas rotatórias ou rotoreliefs (discos em que Duchamp desenhou linhas e círculos concêntricos e excêntricos) que, ao girarem, provocam no espectador uma sensação estranha, como uma nova dimensão. Inscritas nos espirais, as letras vão formando frases indecifráveis, compondo um dos fenômenos visuais mais puros, sensíveis e fascinantes, em uma tentativa de se produzir filmes estereoscópicos. Por Klaus Farina - Músico, Historiador e Produtor Cultural.

O historiador, crítico de cinema e coordenador do blog "Cinebulição" Luiz Santiago tem uma análise interessnte sobre este filme.

"O multiartista Marcel Duchamp procurou usar suas concepções dadaístas para criar realidades de dimensões no cinema. Em seu curta-metragem Anémic Cinéma (1926?), o artista criou diferentes mundos a cada pequena sequência.
Embora a única coisa real do curta sejam os discos com frases dadaístas, como por exemplo, “Entre nossos artigos de quinquilharia preguiçosa, recomendamos a torneira que deixa de escoar quando não escutamos mais”, o espectador é hipnotizado pelos círculos desenhados em discos, que giram, dando uma estranha sensação de outra dimensão.
A cada “disco-figura”, Duchamp inseriu um fotograma com um “disco-palavra”, e na alternância de uma para outro, aumentam a velocidade do giro, o tamanho das palavras e dos discos.
Na dimensão da linguagem, ficamos intrigados ou encantados com o que (não) significam as frases que aparecem. Na dimensão das imagens, observamos que a capacidade de observação de Duchamp era incrível, para criar, em 1929?, uma sensação que viraria formato de cinema no século vinte e um. Anémic Cinéma é uma sessão de hipnose que dura seis minutos, e pela qual todo cinéfilo deve passar".
Por Luiz Santiago

CINEMA ANÊMICO (Anémic cinéma, França, 1926)

Direção: Marcel Duchamp.
Marcel Duchamp
28 de julho de 1887, Blainville (França)
2 de outubro de 1968, Nova York (EUA)

Biografia:

Artista francês, Marcel Duchamp nasceu em Blainville, França, a 28 de julho de 1887, e morreu em Nova York, EUA, em 2 de outubro de 1968. Irmão do pintor Jacques Villon (Gastón Duchamp) e do escultor Raymond Duchamp-Villon. Freqüentou em Paris a Academie Julian, onde pinta quadros impressionistas, segundo ele, "só para ver como eles faziam isso".
Em 1911-1912 suas obras "O rei e a rainha cercados de nus" e "Nu descendo uma escada" estão na confluência entre o Cubismo e o Futurismo. São quadros simultaneistas, análises do espaço e do movimento. Mas já se destacam pelos títulos, que Duchamp pretende incorporar ao espaço mental da obra.
Entre 1913-1915 elabora os "ready-made", isto é, objetos encontrados já prontos, às vezes acrescentando detalhes, outras vezes atribuindo-lhes títulos arbitrários. O caso mais célebre é o de "Fonte", urinol de louça enviado a uma exposição em Nova York e recusado pelo comitê de seleção. Os títulos são sugestivos ou irônicos, como "Um ruído secreto" ou "Farmácia". Detalhe acrescentado em um "ready-made" célebre: uma reprodução da Gioconda, de Leonardo da Vinci, com barbicha e bigodes.
Segndo o crítico e historiador de arte Giulio Carlo Argan, os "'ready-mades' podem ser lidos como gesto gratuito, como ato de protesto dessacralizante contra o conceito 'sacro' da 'obra de arte', mas também como vontade de aceitar na esfera da arte qualquer objeto 'finito', desde que seja designado como 'arte' pelo artista".
Esses "ready-mades" escondem, na verdade, uma crítica agressiva contra a noção comum de obra de arte. Com os títulos literários, Duchamp rebelou-se contra a "arte da retina", cujos significados eram só, segundo ele, impressões visuais. Duchamp declarou preferir ser influenciado pelos escritores (Mallarmé, Laforgue, Raymond Roussel) - e não pretendia criar objetos belos ou interessantes. A crítica da obra de arte se estendia à antítese bom gosto-mau gosto.
Entre 1915 e 1923 o artista dedicou-se à sua obra principal, "O grande vidro", pintura a óleo sobre uma placa de vidro duplo dividido em duas seções. A parte superior chamou de "A noiva desnudada pelos seus celibatários, mesmo"; e a inferior, "Moinho de chocolate". Toda a obra é um pseudomaquinismo: a "noiva" é um aparato mecânico, assim como os "celibatários". Contendo vários níveis de significação, várias hipóteses foram formuladas pela crítica para descobrir o sentido de sua complicada mitologia.
Para Giulio Carlo Argan, "O grande vidro" foi desenvolvido "em torno de significados erótico-místicos, joga com a transparência do espaço, com o significado alquímico e simbólico, com o conceito de 'andrógino', inato em todos os indivíduos".
Coincidir arte e vida
Após "O grande vidro", Duchamp dedicou-se aos mecanismos ópticos - que chamou de "rotorrelevos". Em 1941 executa uma "caixa-maleta", contendo modelos reduzidos de suas obras, e, em 1943, a "Caixa verde", contendo fotos, desenhos, cálculos e notas.
A partir de 1957 vive em Nova York, dedicando-se à sua paixão pelo jogo de xadrez. Seu silêncio parece uma redução da capacidade inventiva, mas após sua morte descobre-se que o artista estivera trabalhando secretamente na construção de um "ambiente": um quarto fechado onde repousa uma figura em cera, cercada de vegetações. O ambiente só pode ser visto, por determinação do artista, por um orifício da porta.
A obra de Duchamp, reduzidíssima, foi menos obra do que uma atitude, um gesto crítico radical, mas em muitas declarações o artista recusou-se a ser visto como um destruidor. A atitude crítica de Duchamp ainda repercute, tantos anos depois de suas criações radicais.
Na opinião de Giulio Carlo Argan, "talvez a obra de Duchamp alquímica por excelência seja toda a sua vida, que serve de modelo para todas as novas vanguardas do segundo pós-guerra, do 'New Dada' às experiências de recuperação do corpo como expressão artística, na intenção de fazer coincidir arte e vida".

Fontes:

- Enciclopédia Mirador Internacional
- "Arte moderna", Giulio Carlo Argan, Editora Cia. das Letras.
- site uol - Educação

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dimensão Experimental "Música, Cinema e Memória" - Fernand Léger








No próximo dia 25/09/2010 (sábado) ás 18 horas na sala de cinema Paulo Amorim na Casa de Cultura Mário Quintana, o grupo Dimensão Experimental vai performar ao vivo através de músicas autorais 5 filmes da era avante-garde do cinema do século XX (anos 20). Após a performance e projeção dos filmes vai acontecer a palestra com o cineasta Yury Hendrik que vai falar sobre a importância histórica no cinema deste movimento cultural. Dando continuidade as matérias sobre os diretores e os filmes musicados no projeto "Música, Cinema e Memória" hoje falaremos um pouco sobre o artísta cubista Fernand Léger que em 1924 desenvolveu um dos mais impressionantes filmes da história do cinema avante-garde.

"Jules-Fernand-Henri Léger (Argentan, Orne, 4 de fevereiro de 1881 — Gif-sur-Yvette, 17 de agosto de 1955) foi um pintor francês que se distinguiu como pintor e desenhador cubista, autor de muitas litografias.
Nascido na Baixa-Normandia, iniciou a sua formação artística aos catorze anos, sendo aprendiz de um arquitecto em Caen. Em 1900 rumou para Paris, onde ingressou na Escola de Artes Decorativas, após uma tentativa frustrada de ingressar na Escola das Belas-Artes.
Em 1908, e na mesma cidade, instalou-se num edifício conhecido como "Ruche" (colmeia, em português), onde conviveu com outros artistas como Jacques Lipchitz, Robert Delaunay e até Marc Chagall, tendo-se tornado um dos melhores amigos deste último.
Entre 1909 e 1910, realizou a sua primeira grande obra Nus no bosque, uma pintura onde são notáveis as aspirações impressionistas.
A partir do ano de 1911, conheceu Pablo Picasso e Georges Braque, os quais lhe transmitiram influências cubistas, nas quais se aplicou e trabalhou durante a maior parte da sua carreira artística.
Em 1914, com o início da Primeira Grande Guerra, Léger foi recrutado para as trincheiras. Após esta etapa da sua vida, a sua pintura passou a representar a sua admiração pelos objectos mecânicos, tendo especial interesse pelos tanques de guerra.
A partir de 1920, predomina em sua obra a figura humana enquadrada por elementos industriais. Ainda na segunda década do século, numa nova fase da sua vida, produz e dirige o filme O ballet mecânico.
Devido à Segunda Grande Guerra, exilou-se nos Estados Unidos da América, onde foi professor na Universidade de Yale e no Mills College, tendo voltado para França em 1945.
De volta à sua terra natal, concebeu os vitrais da Igreja do Sacré-Coeur de Audincourt e um painel para o Palácio das Nações Unidas de Nova Iorque.
Em 1945 filiou-se no Partido Comunista e a sua obra passa a focar o trabalhador e o proletariado.
Pintou, em 1954, o seu mais conhecido quadro: A grande parada.
Em 1955, ano do seu falecimento, foi homenageado com o prémio da Bienal de São Paulo.
O trabalho de Léger exerceu uma influência importante no construtivismo soviético. Os modernos pôsteres comerciais, e outros tipos de arte aplicada, também se vieram influenciar por seus desenhos. Em seus últimos trabalhos, realizou uma separação entre a cor e o desenho, de tal maneira que suas figuras mantêm seus formulários robóticos definidos por linhas pretas." (Wikipédia)

“Ballet Mécanique” (1924) 11 min. – Fernand Léger

Fernand Léger, (1881-1995) foi um dos mais destacados pintores cubistas. Os seus quadros apresentam formas com volumetrias acentuadas e simplificadas, reduzidas a volumes primários, como cones e cilindros, acentuados por uma vigorosa modelação, denunciando a sua formação inicial em arquitetura e o fascínio pela civilização industrial do séc. XX. Ao contrário de Picasso ou de Braque, que viam na representação da mecânica do movimento apenas um meio para revelarem a mecânica da percepção, Léger devotou toda a sua vida ao estudo das formas das máquinas e dos objetos técnicos, acreditando sempre no poder de transformação da arte e na sua importância para o estabelecimento de uma sociedade mais justa e igualitária, baseada no progresso técnico e científico.
Inspirado pelo estilo tragicômico das primeiras diatribes cinematográficas de Charles Chaplin, Léger decidiu transpor para o cinema os seus princípios estéticos e o seu otimismo ideológico. O resultado foi o curta-metragem experimental Ballet Mécanique (1924), um dos mais antigos e importantes filmes abstratos, que se tornou um exemplo clássico da utilização de objetos quotidianos a serviço da abstração formal.
(Fernand Léger (1881-1995) foi um dos mais destacados pintores cubistas. Os seus quadros apresentam formas com volumetrias acentuadas e simplificadas, reduzidas a volumes primários, como cones e cilindros, acentuados por uma vigorosa modelação, denunciando a sua formação inicial em arquitectura e o fascínio pela civilização industrial do séc. XX. Ao contrário de Picasso ou de Braque, que viam na representação da mecânica do movimento apenas um meio para revelarem a mecânica da percepção, Léger devotou toda a sua vida ao estudo das formas das máquinas e dos objectos técnicos, acreditando sempre no poder de transformação da arte e na sua importância para o estabelecimento de uma sociedade mais justa e igualitária, baseada no progresso técnico e científico.
No ensaio «A New Realism: the Object (its Plastic and Cinematic Graphic Value)», publicado em 1926, Léger manifestou com clareza a intenção de trazer à tona os valores do objecto. Relegando para segundo plano as noções tradicionais da narrativa cinematográfica (os melodramas românticos, os épicos históricos, o suspense…), Léger centrou a sua atenção nos objectos do quotidiano, como um cachimbo, uma cadeira, uma máquina de escrever ou um chapéu. Ao descobrir e mostrar as afinidades entre o movimento e a dinâmica das formas, Ballet Mécanique divorcia o aspecto visual dos objectos da função subjacente à sua criação. Esta separação proporcionou a Léger a liberdade para explorar e desenvolver inovações abstractas em torno das possibilidades plásticas dos objectos comuns.
Ballet Mécanique é um filme difícil de descrever. Trata-se de uma curta invectiva não-narrativa, constituída por mais de trezentas cenas onde a ideia de ballet surge associada à fluidez da performance humana. Uma sucessão estonteante de imagens fugidias desfila perante os nossos olhos em sincronia com a música criada por George Antheil: garrafas, chapéus, triângulos, círculos, reflexos da câmara numa esfera suspensa, números, o sorriso de uma mulher, engrenagens mecânicas, as pernas de um manequim de loja, e muitas outras formas e composições em constante movimento e transformação, criam uma complexa metáfora cinematográfica onde homem e máquina se fundem.
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Nos seus múltiplos segmentos e quadros fixos deparamos com inúmeras imagens caleidoscópicas em movimento e formas geométricas planas que remetem para o conceito gestáltico de figura e de fundo. Recorrentes, também, são os segmentos com séries de movimentos que se repetem, como aquele em que uma mulher sobe uma escada com um saco ao ombro, que é um dos primeiros exemplos de loop-printing, uma técnica que se veio a tornar comum no cinema experimental dos anos 60.

Filmografia:
Ballet Mécanique - 1924

Pesquisa e texto Klaus Farina - Músico, Historiador e Produtor Cultural

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Dimensão Experimental "Música, Cinema e Memória" - Man Ray

Dando continuidade as biografias dos cineastas avant-garde que serão musicados no projeto "Música, Cinema e Memória" de autoria do grupo Dimensão Experimental (dia 25/09/2010 na sala de cinema Paulo Amorim na CCMQ ás 18 horas com entrada franca), hoje vamos falar um pouco de Man Ray um dos mais importantes artistas da vanguarda dos anos 20 do século XX. Seu filme "Le Retour à La Raison” de 1923 foi com certeza aquele que provocou maior reação negativa diante de um público que não estava preparado para a proposta revolucionária e artística de seu autor. Posteriormente, Man Ray faz outro filme "Emak-Bakia" (que em lingua basca significa deixe-me em paz) utilizando-se de algumas imagens de "Le Retour à la Raison".









“Le Retour à La Raison” (1923) 2 min. – Man Ray

O pintor e fotógrafo, Man Ray fez seu primeiro filme “Le Retour à La Raison” (1923) em um só dia. O título se refere a um retorno à razão, mas, paradoxalmente, o filme revela-se inteiramente sem razão. Utilizando-se de radiogramas, quadros feitos por objetos colocados diretamente sobre a película, como alfinetes e botões, o filme projetava efeitos metálicos na tela.
O corpo nu de uma mulher foi um dos únicos elementos concretos do filme, que continha cenas comuns em um contexto incomum.
Esta foi uma obra dadaísta, tanto pelos elementos utilizados quanto pelos seus resultados, uma vez que causou uma reação violenta na platéia sendo interrompida a projeção após um minuto.


Man Ray (Emanuel Rabinovitch, Filadélfia, 27 de Agosto de 1890 - Paris, 18 de Novembro de 1976) foi um fotógrafo e pintor norte-americano.
Foi um dos nomes mais importantes do movimento vanguardista da década de 1920, responsável por inovações artísticas na fotografia. Muda-se na infância para Nova Iorque. Estudante de arquitectura, engenharia e artes plásticas, inicia-se na pintura ainda jovem.
Em 1915 conhece o pintor francês Marcel Duchamp, com quem funda o grupo dadá nova-iorquino. Em 1921 contacta com o movimento surrealista na pintura. Trabalha como fotógrafo para financiar a pintura e, com a nova actividade, desenvolve a sua arte, a raiografia, ou fotograma, criando imagens abstratas (obtidas sem o auxílio da câmara) mas com a exposição à luz de objetos previamente dispersos sobre o papel fotográfico.
Como cineasta, produz filmes surrealistas, como L'Étoile de Mer (1928), com o auxílio de uma técnica chamada solarização, pela qual inverte parcialmente os tons da fotografia. Muda-se para a Califórnia em 1940, para explorar as possibilidades expressivas da fotografia. Aí dá aulas sobre o tema. Seis anos depois, retorna a França. Em biografia Auto-Retrato.
Em 1915 fez o primeiro one-man-show, com o que se fez famoso seu nome por toda América, como um dos primeiros pintores abstratos.
Adquire sua primeira câmera para fazer reproduções de seus quadros.
Com Duchamp participa em experimentos fotográficos e cinematográficos e na publicação do único número do New York Dadá. Impulsionado por Duchamp, Man Ray se mudou para Paris em 1921, com a única exceção de 10 anos (entre 1940 e 1951) que viveu em Hollywood durante a Segunda Guerra Mundial, passou o resto de sua vida ali.
Captou o atendimento com suas primeiras fotos abstratas, às que batizou como rayogramas. Errôneamente se considerou inventor da técnica aplicada para isso, que já a tinham experimentado outros artistas anteriormente, entre outros Talbot (para 1840) e - Schad (1918). Publicou 12 de seus rayogramas sob o título "Champs delicieux".
Possuidor de uma grande imaginação, e sempre à frente das vanguardas, trabalhou com todos os meios possíveis: pintura, escultura, fotografia e filmes.
Man Ray falece na França em 1976 e é enterrado no cemitério de Montparnasse.
Em entrevista a Paul Hill e Thomas Cooper em abril de 1974, o pintor e fotógrafo norte-americano Man Ray, nos conta porque se dedicou à fotografia:

" Fui pintor durante muitos anos antes de me tornar fotógrafo. Um dia comprei uma câmera só porque não gostava das reproduções que os fotógrafos profissionais faziam de minhas obras.
Nessa época apareceram as primeiras placas pancromáticas e possibilitaram se fotografar em branco e preto, conservando os valores das cores. Estudei com muita aplicação e depois de alguns meses, me tornei um expert.
Meu interesse maior era com as pessoas, especialmente com os rostos. Em lugar de pintar pessoas, comecei a fotografa-las, e desisti de pintar retratos, ou melhor, se pintava um retrato, não me interessava em ficar parecido. Finalmente conclui que não havia comparação entre as duas coisas, fotografia e pintura.
Pinto o que não pode ser fotografado, algo surgido da imaginação, ou um sonho, ou um impulso do subconciente. Fotografo as coisas que não quero pintar, coisas que já existem".

Recorremos mais uma vez a um texto de Luiz Santiago historiador, critico de cinema e coordenador do blog cinebulição intitulado "A razão segundo Man Ray".

Man Ray foi um artista plural, e o principal artista americano do surrealismo. Além de dirigir filmes, também pintava e fotografava. Em 1924, atuou para René Clair em Entreatos. Também foi assistente de Marcel Duchamp durante o período em que passou na França – no qual também integrou a chamada “Geração Perdida”.

Sua obra O retorno à razão (1923), é um curta-metragem enigma, assim como todo o trabalho surrealista. Os significados e as conclusões para o que nos é apresentado pela câmera podem ser diversos, mesmo para um único indivíduo.
Não há créditos de abertura, no filme. A cena inicial é uma sequência de imagens granuladas, multi-caleidoscópios em preto e branco. Pregos soltos na tela e algumas imagens surrealistas se seguem. A primeira quebra narrativa (talvez uma tentativa de alusão muda ao título) é a imagem de um carrossel funcionando em um parque de diversões, à noite. Vários ângulos são mostrados. A câmera nunca está parada, e se torna subjetiva às vezes. É o primeiro momento em que vemos algo que faça sentido real: closes de um carrossel. Na sequência seguinte, uma outra mudança estrutural-narrativa: uma engrenagem de uma máquina em tamanho gigante (como as de Tempos Modernos, 1936, de Chaplin) é mostrada. No fundo da imagem das máquinas parece haver um palco. Uma luz diagonal reflete o que parece ser a roupa de uma pessoa. No canto superior esquerdo podemos ler a palavra DANCER. Seria o trabalhador que usa essas máquinas, apontado aqui como “dançarino”?

Outras imagens surrealistas se seguem, em alta velocidade. Um “cone” de papel desce em frente à câmera. Uma pequena armação de madeira roda, presa a um barbante, em frente a uma janela iluminada pela luz do sol.
O fechamento do curta, é, novamente, uma “volta à razão”: uma mulher, com os seios à mostra, está em frente à uma janela. O reflexo da cortina sobre seus seios e sua barriga fazem-na parecer um jarro desenhado e alto-relevo. A mesma imagem é mostrada em negativo. E o curta termina com a mulher tomada em um ângulo diagonal.

O que poderia ser o “retorno à razão”, proposto por Man Ray? A tirar pelo término do curta, esse “retorno” a tal razão é falso, porque a razão não existe, segundo as suas experiências fotográficas que alteram a imagem-realidade: ou, o que seriam aquelas imagens reproduzidas pela câmera? Que efeito de “real” produziram no espectador? Seria o ininteligível a “verdadeira razão” do homem, e a sua convencional realidade uma falsidade produzida por ele? Um retorno a qual razão, o cineasta propõe?

Questões filosóficas e surrealistas...

Por Luiz Santiago

Filmografia:

Le Retour à la Raison - 1923
Emak-Bakia - 1926
L Ètoile de Mer - 1928
Les Mystères du Châteu de Dé - 1929

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Dimensão Experimental "Música, Cinema e Memória" - Alvin Knechten

Alvin Kenechten.

O grupo Dimensão Experimental que em 25/09/2010 ás 18 horas fará a estréia do projeto "Música Cinema e Memória" na sala de Cinema Paulo Amorim (CCMQ)apresenta a partir de hoje pequenas resenhas sobre os filmes e os diretores escolhidos para esta primeira edição. Começamos por Alvin Knechten.

“Cockeyed” (1925) – 3 min. – Alvin Knechte

Em Cockeyd: Gems fron the memory of a nutty cameraman (1925), Alvin Kenechte, realizou neste filme de apenas três minutos experimentos de sobreposição de imagens através da subdivisão da tela de forma inteligente e divertida criando efeitos surreais como um homem comendo uma lâmpada incandescente, pessoas, edifícios, carros, aviões, trens desaparecendo e reaparecendo, entre as cenas intrigantes que apresentadas pelo autor, evidenciam através do insólito confundir, e questionar a sanidade do expectador. Para dar uma visão mais completa sobre este trabalho recorremos a critica do historiador, critico de cinema e coordenador Luiz Santiago dop blog Cinebulição www.cinebuli.blogspot.com.

"Cockeyed: Gems from the memory of a nutty cameraman (1925), foi o primeiro curta-metragem de Alvin Knechten, que inicia a carreira em meio às manifestações revolucionárias no mundo das artes, na década de 1920.
Sem preocupação com a narrativa ou com a linearidade, Knechten organizou fotogramas aleatórios de situações surrealistas ou que fogem totalmente ao habitual.
As alterações imagéticas do que é captado pela câmera foram feitas na edição, usando-se perfeitas fusões de imagem. O efeito produzido é dos mais impressionantes.
Na sequência de abertura vemos o mar, e por trás dele, aos poucos, emerge a cidade de Nova York. Quando o fotograma se “encaixa”, percebemos que aquele “pedaço” que não estava ali completava a imagem da cidade, como um quebra-cabeça. A intenção do diretor é fazer valer o título, jogando para o “acaso” (a lente) ou para o espectador a louca perspectiva das coisas: a lente estrábica.
A segunda sequência mostra um homem de perfil, em primeiro plano, comendo uma lâmpada. A sequência seguinte “divide” o mar embaixo da Ponte do Brooklin: um navio passa a poucos metros de uma cascata.
Na quarta sequência, um navio se aproxima pelo lado direito da tela e um avião sobrevoa o mesmo plano. De repente o avião começa a se multiplicar, ao passo que o navio “empurra” o “plano vazio” do lado esquerdo da tela. O efeito preenche de modo dinâmico todo o espaço, um criativo uso do espaço cênico feito apenas pela montagem. Nas duas sequências seguintes observamos partes da cidade emergirem (tal como na primeira) e se encaixarem no restante estático do fotograma.
Antes da sétima sequência há um intertítulo: “Quem é maluco agora?”. Segue-se a cena mais criativa do curta: o diretor filmou momentos de diferente intensidade de tráfego em uma rua. Usando uma árvore como uma espécie de ponto-de-fuga ele contrapõe o que vem antes, com o que se segue. “Atrás” da árvore os carros avançam a toda velocidade, mas não os vemos completar seu caminho. Ao passar pela árvore os carros ficam extremamente lentos. Certamente, o melhor efeito do filme, e com certeza, um dos melhores do Primeiro Cinema.
O mesmo princípio, porém, em situações diferentes, é usado nas três cenas seguintes, mas nenhuma delas mais inventiva que a da “árvore-vórtice-desaceleradora”.
Como já dissemos, a preocupação com a narrativa não existe, fato que justifica a “incompatibilidade” das sequências. O curta tem apenas três minutos, mas revela uma incrível preocupação com a provocação das percepções mais básicas do espectador, e consegue isso de modo fenomenal e muito criativo".

Por Luiz Santiago.

Filmografia:

The Leech - 1921
The frist Woman - 1922
Is Money Everything? - 1923
Cockeyed - 1925
Shootin' Injuns - 1925
The Polent Leather kid - 1927
The Drop Kicck - 1927
The Great Divide - 1929
The Careless Age - 1929.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Yury Hendrik é o palestrante do projeto "Música, Cinema e Memória" de autoria do grupo Dimensão Experimental


Yury Hendrik é diretor e realizador de cinema, além de diversas outras atividades artísticas (como artesão, malabarista, ilustrador, ator e cenotécnico).

O grupo Dimensão Experimental acertou a participação do cineasta Yury Hendrik como palestrante no projeto "Música, Cinema e Memória" que será realizado no próximo dia 25/09/2010 as 18 horas na Sala de cinema Paulo Amorim. A apresentação consiste de uma performance do Dimensão Experimental musicando 5 obras do cinema avant-garde dos anos 20 do século XX, seguido de uma palestra do cineasta que vai abordar entre outros assuntos a importância deste movimento cultural na história do cinema que está por completar um século e sua influência no presente inclusive na vídeo-arte. O projeto "Música, Cinema e Memória" faz parte da programação de aniversário de 20 anos da Casa de Cultura Mário Quintana e a entrada é franca. A partir de hoje e nos próximos dias serão publicadas matérias sobre os filmes e os diretores.

Yury Hendrik pertence a uma nova geração de cineastas autorais e caracteriza-se por fazer como ele costuma dizer um "cinema de guerrilha". Reproduzimos aqui seu curriculo.

Formado em cinema pela ULBRA (Universidade Luterana do Brasil, Hendrik destaca-se pelo seu cinema autoral e pela diversidade temática de suas obras.

Adepto do “cinema de guerrilha” (filmes feitos sem orçamento e, consequentemente, sem padrões de produção), Yury já trabalhou com nomes consagrados como os atores Nilton Filho, Susi Camargo. Patsy Cecato e Renan Carneiro e de músicos como Lucas Ortiz (Família Sarará) e Fernando Noronha (renomado internacionalmente no cenário do blues), bem como de cineastas como Frederico Pinto, Ricardo Zimer, André Arieta e Biah Werther e Maurício Medeiros (fotógrafo).

Como diretor, realizou os filmes:
Baseado em Fatos Irreais (animação feita nos antigos moldes artesanais)- 2004;
O Xixi de Deus, pelo Menos (uma reflexão sobre o lixo e o seu consumo consciente) - 2006;
O Louco do Violão (em finalização, adaptação de um conto de Eduardo Galeano)- em finalização;
Goberí & Leprechaun – Em Busca das Latas Perdidas (longa-metragem documental e experimental)- 2009;
A Cor da Canção (musical inspirado em um conto de Robert Crumb)- 2009
Galatéia (romance da literatura Greco-romana)- 2009
Chão de Estrelas (em pré-produção)

Atualmente, Yury Hendrik está pré-produzindo o seu segundo longa-metragem intitulado Chão de Estrelas, que conta em retrocesso a história de Heitor, um homem vítima de conflito agrário que divide suas memórias em quatro cores.