segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Cine Clube de Cultura- Ciclo Consciência Negra - Libertem Angela Davis - Nesta Quinta, dia 23/11/2017


No mês da consciência negra o Cine Clube de Cultura apresenta uma programação especial propondo uma reflexão sobre o racismo no mundo e na sociedade brasileira.

Cine Clube de Cultura - Ciclo Consciência Negra

Confira a programação abaixo.
A entrada é franca.
Participe.
Local: Clube de Cultura, rua Ramiro Barcelos, 1853.
Horário: 19h30min.

09 de novembro – Racismo: uma história (doc BBC, parte 1, 2007, 58min), de Paul Tickell, e Brasil: uma história inconveniente (2000, 46min), de Phil Grabsky

Racismo: Uma História - é um documentário produzido pela BBC Four (2007) em comemoração ao bicentenário do Ato contra o Comércio de Escravos de 1807, inserido na chamada "Abolition Season", promovida pelo canal inglês.
Brazil: An Inconvenient History (Brasil: Uma história inconveniente) é um documentário dedicado ao passado colonial do Brasil, realizado em 2000 por Phil Grabsky, para a BBC/History Channel. Ganhou um Gold Remi Award no Houston International Film Festival em 2001.

16 de novembro – A negação do Brasil (2000, 92min), de Joel Zito Araújo

Vencedor do Festival "É Tudo Verdade de 2001", o documentário traz à tona a história das lutas dos atores negros pelo reconhecimento de sua importância na história da telenovela brasileira. O documentário é uma viagem na história da telenovela no Brasil e, particularmente, uma análise do papel nelas atribuído aos atores negros, que sempre representam personagens mais estereotipados e negativos. Baseado em suas memórias e em fortes evidências de pesquisas, o diretor aponta as influências das telenovelas nos processos de identidade étnica dos afro-brasileiros e faz um manifesto pela incorporação positiva do negro nas imagens televisivas do país.

23 de novembro – Libertem Angela Davis (2012, 102min), de Shola Lynch

Este documentário retrata a vida de Angela Davis, uma professora de filosofia nascida no Alabama, e conhecida por seu profundo engajamento em defesa dos direitos humanos. Quando Angela defende três prisioneiros negros nos anos 1970, ela é acusada de organizar uma tentativa de fuga e sequestro, que levou à morte de um juiz e quatro detentos. Nesta época, ela se tornou a mulher mais procurada dos Estados Unidos. Ainda hoje, Angela é um símbolo da luta pelo direito das mulheres, dos negros e dos oprimidos.

30 de novembro – Eu não sou seu negro (2016, 93min), de Raoul Peck

Narrado por Samuel L. Jackson, o documentário constrói uma reflexão sobre como é ser negro nos Estados Unidos.
Em 1979, James Baldwin iniciou seu último livro, “Remember This House”, relatando as vidas e assassinatos dos lideres ativistas que marcaram a história social e politica americana: Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr.
Baldwin não foi capaz de completar o livro antes de sua morte, e o manuscrito inacabado foi confiado ao diretor Raoul Peck, que combina esse material com um rico arquivo de imagens dos movimentos Direitos Civis e Black Power, conectando essas lutas históricas por justiça e igualdade com os movimentos atuais que ainda clamam os mesmos direitos.

Realização: Clube de Cultura
Apoio: E o Vídeo Levou e Grupo Dimensão Experimental



Quem é Angela Davis por; Rosane Borges

Angela Yvonne Davis é uma feminista negra estadunidense, nascida no Alabama (um dos estados mais racistas dos EUA), em 1944, uma intelectual do mais alto gabarito, filósofa, professora emérita do Departamento de Estudos Feministas da Universidade da Califórnia, uma mulher que pertenceu a uma geração em que a luta política foi uma arena fundamental para a mudança do mundo. Sabemos o quanto os anos 60 do século passado se constituíram numa década importante para a transformação social; avaliada como um clarão na história da humanidade, abrigou movimentos variados em todo o mundo, irmanados por uma onda de insatisfação que advinha de diversos focos.



O Maio de 68, a Primavera de Praga, o movimento feminista, o movimento hippie, o movimento estudantil, o movimento negro, entre outros grupos, firmaram-se como expressões de contestação e reafirmação das lutas anticapitalistas. Podemos dizer que a professora da Universidade da Califórnia, ícone do feminismo negro, é filha legítima dessas inquietações que alteraram mentalidades, situando-se no campo da intervenção social, no combate do racismo e do sexismo. Marxista de formação, foi orientanda do pensador Herbert Marcuse, integrante da Escola de Frankfurt, cuja teoria entrelaça elementos da Psicanálise freudiana e do marxismo crítico – influência que a fez ainda mais convicta de suas inclinações socialistas e comunistas já esboçadas quando, aos 14 anos, fez intercâmbio no Greenwich Village, Nova Iorque, onde teve contato com a literatura comunista.



Dessas formações, Angela Davis colheu elementos para a construção de sua própria trajetória, filiando-se ao Partido Comunista e aos movimentos negro e feminista, a exemplo da SNCC, de Stokely Carmichael, e depois o Black Power e os Panteras Negras. A sua carreira política ganha visibilidade mundial na década de 1970, quando é presa pela acusação grave de conspiração, sequestro e homicídio, em virtude de uma suposta ligação sua com uma tentativa de fuga do tribunal do Palácio de Justiça do Condado de Marin, em São Francisco.


Tornou-se, em virtude disso, a terceira mulher a integrar a Lista dos Dez Fugitivos Mais Procurados do FBI. A fibra moral e ética de Angela Davis a torna uma mulher absolutamente comprometida com a mudança social, a partir da reflexão e da prática. Desse modo, ela nos lega obras fundantes para o feminismo negro, em particular, e o movimento negro, em geral.


O livro Mulheres, raça e classe é, a meu ver, um clássico que ombreia com outros da Sociologia e da teoria social. E insisto: o epíteto não é nenhuma extravagância retórica. Adoto o conceito de clássico cunhado pelo pensador Norberto Bobbio, para quem um clássico é um intérprete único de seu tempo, com tamanha reserva de atualidade que cada época e cada geração têm a necessidade de relê-lo, de reinterpretá-lo.



Um clássico cria teorias-modelo com vistas à compreensão da realidade, de tal sorte que consegue até mesmo explicar contextos diferentes daquele em que foi gestado. E é isso que a obra de Angela Davis nos possibilita. Para quem não a conhece, podemos dizer que é a mulher dos fundamentos, somos dela devedoras e devedores, uma contemporânea, no sentido em que Agamben reatualiza de Nietzsche: uma mulher que vive o seu tempo, mas que toma posição em relação ao presente, “pertence ao seu tempo, mas não coincide perfeitamente com ele; adere a ele, ao mesmo tempo que dele toma distância”. Talvez seja por isso que ela tenha sido considerada tão perigosa para o establishment.

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