terça-feira, 28 de novembro de 2017

Cine Clube de Cultura - Ciclo Consciência Negra - Eu Não Sou Seu Negro - Nesta Quinta dia 30/11/2017 - Entrada Franca


Cine Clube de Cultura - Ciclo Consciência Negra

Confira a programação abaixo.
A entrada é franca.
Participe.
Local: Clube de Cultura, rua Ramiro Barcelos, 1853.
Horário: 19h30min.
Entrada Franca

09 de novembro – Racismo: uma história (doc BBC, parte 1, 2007, 58min), de Paul Tickell, e Brasil: uma história inconveniente (2000, 46min), de Phil Grabsky

Racismo: Uma História - é um documentário produzido pela BBC Four (2007) em comemoração ao bicentenário do Ato contra o Comércio de Escravos de 1807, inserido na chamada "Abolition Season", promovida pelo canal inglês.
Brazil: An Inconvenient History (Brasil: Uma história inconveniente) é um documentário dedicado ao passado colonial do Brasil, realizado em 2000 por Phil Grabsky, para a BBC/History Channel. Ganhou um Gold Remi Award no Houston International Film Festival em 2001.

16 de novembro – A negação do Brasil (2000, 92min), de Joel Zito Araújo

Vencedor do Festival "É Tudo Verdade de 2001", o documentário traz à tona a história das lutas dos atores negros pelo reconhecimento de sua importância na história da telenovela brasileira. O documentário é uma viagem na história da telenovela no Brasil e, particularmente, uma análise do papel nelas atribuído aos atores negros, que sempre representam personagens mais estereotipados e negativos. Baseado em suas memórias e em fortes evidências de pesquisas, o diretor aponta as influências das telenovelas nos processos de identidade étnica dos afro-brasileiros e faz um manifesto pela incorporação positiva do negro nas imagens televisivas do país.

23 de novembro – Libertem Angela Davis (2012, 102min), de Shola Lynch

Este documentário retrata a vida de Angela Davis, uma professora de filosofia nascida no Alabama, e conhecida por seu profundo engajamento em defesa dos direitos humanos. Quando Angela defende três prisioneiros negros nos anos 1970, ela é acusada de organizar uma tentativa de fuga e sequestro, que levou à morte de um juiz e quatro detentos. Nesta época, ela se tornou a mulher mais procurada dos Estados Unidos. Ainda hoje, Angela é um símbolo da luta pelo direito das mulheres, dos negros e dos oprimidos.

30 de novembro – Eu não sou seu negro (2016, 93min), de Raoul Peck

Narrado por Samuel L. Jackson, o documentário constrói uma reflexão sobre como é ser negro nos Estados Unidos.
Em 1979, James Baldwin iniciou seu último livro, “Remember This House”, relatando as vidas e assassinatos dos lideres ativistas que marcaram a história social e politica americana: Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr.
Baldwin não foi capaz de completar o livro antes de sua morte, e o manuscrito inacabado foi confiado ao diretor Raoul Peck, que combina esse material com um rico arquivo de imagens dos movimentos Direitos Civis e Black Power, conectando essas lutas históricas por justiça e igualdade com os movimentos atuais que ainda clamam os mesmos direitos.

Realização: Clube de Cultura
Apoio: E o Vídeo Levou e grupo Dimensão Experimental



"Eu não sou seu negro
Por: Juliana Gonçalves e Norma Odara
"A história dos negros na América é a história da América. E não é uma história bonita". Essa é uma das frases que aparecem nos primeiros minutos do documentário ''Eu não sou seu negro”, dirigido pelo haitiano Raoul Peck. O roteiro é construído a partir do livro inédito e inconcluso do escritor estadunidense James Baldwin (1924 – 1987), batizado de Remember This House (1979).
A obra traça a história racial conflituosa em território americano a partir dos assassinatos de três dos principais líderes negros da história: Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King, todos "mortos com menos de 40 anos" em um intervalo de apenas cinco anos (Evers, em 1963; X, em 1965; King, em 1968).


Além do livro, o diretor Raoul Peck se vale de cartas, trechos gravados de discursos e entrevistas de Baldwin para estruturar o longa-metragem que, por isso, tem seu nome também assinando o roteiro e poderosa narração de suas palavras feita pelo ator Samuel L. Jackon.
São 95 minutos que causam desconforto, dor, empatia pela população negada da América. Aqueles que tornaram possível o "American way of life", sustentado pela mão de obra barata de negros e em solo encharcado com sangue indígena.
O filme traz flashes da história americana, pautada pela escravidão, pelas leis segregacionistas, pela violência policial que dizima ainda hoje muitas vidas, ao passo que apresenta o revide negro, as marchas, os Panteras Negras e o recente movimento do Black Lives Matter.




Todo esse contexto vai traçando a construção da imagem do negro feita a partir do olhar branco e a desvalorização da vida negra. "Antes precisavam da gente para colher algodão, agora que não precisam mais estão nos matando", dispara Baldwin.
A identidade negra e o discurso do "outro"
Na África, eram ketu, fons, ashanti, zulu e tantas outras nações. Depois do translado forçado, todas as pessoas traficadas do continente africano foram batizadas pelos europeus de 'negros'. A classificação, que promove o sequestro da identidade e da humanidade do povo africano, dá licença para que todo tipo de violência seja imposta ao corpo negro.
"O branco é uma metáfora para o poder", diz Baldwin a certa altura. O filme é poderoso justamente por elevar o nível do debate racial, em que os brancos devem tomar a responsabilidade pela sociedade desigual e racista existente até hoje.




O filme resgata o legado de dor e exploração que a comunidade negra é submetida até os dias atuais como fruto e responsabilidade da branquitude e do sistema capitalista. A socióloga inglesa Ruth Frankenberg, em seus estudos, define a branquitude como "um lugar estrutural de onde o sujeito branco vê os outros e a si mesmo, uma posição de poder, um lugar confortável do qual se pode atribuir ao outro aquilo que não se atribui a si mesmo”.





O diretor Peck exemplifica essa ótica ao resgatar trechos de filmes clássicos que refletiam como os brancos viam os negros, por vezes dóceis e passivos perante sua condição de escravizados (como em A Cabana do Pai Tomás, de 1927), ou selvagens, predadores, membros de uma cultura inferior (a exemplo de King King, de 1933).
Outro filme citado como emblemático das relações raciais é o Acorrentados, de 1958. Nele, o personagem negro (interpretado por Sidney Poitier) rejeita a possibilidade de liberdade para não abandonar o companheiro branco de fuga. Para Baldwin, o sacrifício negro como desfecho dessa história simboliza a resposta mais confortável para o público branco.
Essa projeção branca sob o corpo negro, como traz a doutora em Psicologia Maria Aparecido Bento, é “nascida do medo, cercada de silêncio, fiel guardião dos privilégios”. O medo e o terror do corpo negro seriam para Baldwin impulsionadores da violência branca.



A certa altura Peck contrapõe imagens de clássicos de Hollywood com imagens de negros enforcados em árvores, negros que sofreram linchamento, jovens apanhando da polícia, pessoas brancas agredindo e cuspindo em pessoas negras. Sobre isso, Baldwin comenta: "Não há como vocês (brancos) fazerem isso com a gente sem se tornarem monstros".
Lutar com palavras
Baldwin apoiava a luta pelos direitos civis americanos, embora não estivesse em pleno acordo nem com o discurso da não violência de Martin Luther King, nem com as ideias mais radicais de Malcolm X. Era um intelectual. Tinha no seu trabalho escrito sua maior plataforma de ativismo.
É o seu discurso certeiro que chama os brancos a se responsabilizarem pelas desigualdades raciais que mantêm seus privilégios, o elemento mais transformador do filme.
A população branca deste país tem que se perguntar por que foi necessário haver 'os negros' no passado. Mas eu não sou um negro, sou um homem. Mas se você pensa que sou um negro, significa que você precisa de um, então precisa se perguntar por quê.





www.youtube.com/watch?v=fUsO4A8z4Vg

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