Em 13 de dezembro de 1983, o Grêmio conquistou a Copa Pan-Americana de Los Angeles há 37 anos. A Copa Los Angeles foi uma competição oficial não regular da California Soccer Association (CSA), sob supervisão da USSF (United States Soccer Federation), em conformidade com os estatutos e regulamentos da FIFA vigentes na época que colocou em liça, um título simbólico e oficioso (já que provém de fonte oficial, a CSA, mas não certificado pelas duas confederações, por quem de direito) de “Campeão das Américas” ou "Campeão Pan-Americano" por causa dos discretos ícones pan-americanos existentes no troféu desta competição.
Inicialmente, em setembro daquele ano, a CSA, propôs sediar a final da Copa Interamericana de 1983 em Los Angeles, EUA, com objetivo de ser disputada, em 13 de dezembro, após a decisão da Copa Mundial Interclubes em Tóquio, Japão. Em fins de outubro, por conta da instabilidade política econômica na América Central e Caribe, a disputa da Copa Interamericana de 1983 ficou para depois de fevereiro de 1984. Posteriormente, a edição de 1983 seria cancelada por problemas de datas e patrocínio. A CSA, com apoio da USSF (United States Soccer Federation) solicitou junto a FIFA a autorização para a criação de uma competição oficial não regular de futebol, uma espécie de Recopa Interamericana aproveitando a data de 13 de dezembro. O Comitê Executivo da FIFA, autorizou a partida entre Grêmio e América (MEX) em 13/12/1983, com a conotação de competição oficial não regular sob o nome de Copa Los Angeles (ou Copa Pan-Americana como também é conhecida), sem oposição ou apoio das duas confederações do continente americano. A Copa Los Angeles foi aprovada com o objetivo de fazer parte da programação oficial de promoção do futebol nos EUA para os Jogos Olímpicos de Los Angeles 1984.
O curioso é que 34 anos depois em 12 de dezembro de 2017, o Grêmio disputou a semifinal da Copa Mundial de Clubes da FIFA com outro time mexicano, o Pachuca. O Grêmio (campeão da Conmebol) venceu o adversário Pachuca (campeão da Concacaf) por 1×0 na prorrogação, avançando para a final contra o Real Madrid. A vitória sobre o time mexicano representou a conquista de um título simbólico de “Campeão Interamericano“ de 2017 já que houve o confronto entre os campeões das duas confederações continentais das Américas. A grande diferença entre 1983 e 2017 consiste no fato de que o “titulo” de 2017 não foi outorgado por nenhuma entidade de administração do desporto, uma vez que sequer um troféu foi oferecido ao vencedor da partida tornando-o apenas uma conquista simbólica. Não houve tão pouco um troféu de patrocinador ou de terceiros o que caracterizaria ao menos um título amistoso, isto é, não oficial. Nesse sentido o “título” de 2017 é somente simbólico sem o caráter oficioso, não provendo de fonte oficial alguma e sem a certificação por quem de direito, apesar de ser uma partida válida pela semifinal da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, um certame oficial regular. O simbólico nesse caso é referente apenas ao “titulo” de “Campeão Interamericano”, sem vinculo algum com a Copa do Mundo de Clubes da FIFA a não ser o fato desta partida entre Grêmio e Pachuca ser uma das semifinais da competição.
Em contrapartida, a Copa Los Angeles de 1983, foi juridicamente falando uma disputa oficial. A competição foi promovida por uma entidade de administração do desporto estadual de direito privado, a CSA sob a supervisão de uma entidade nacional, a USSF, em conformidade com os estatutos e regulamentos da FIFA vigentes na época sem oposição das duas confederações continentais (Conmebol e Concacaf) que também não se responsabilizaram pela disputa.
Como podemos observar nos estatutos e regulamentos da época, partidas entre equipes de confederações continentais distintas tinham que ter autorização do Comite Executivo da FIFA. Tais partidas não poderiam ter status de competição ou campeonato sem autorização do mesmo Comitê.
Aqui temos uma competição oficial não regular que colocou em liça um titulo simbólico e oficioso de "Campeão Pan-Americano". Sendo a CSA uma entiade filiada a Fifa, Concacaf e USSF, essa não poderia colocar um troféu em disputa sem a autorização da Fifa, pois isso configuraria jurídicamente uma competição e a CSA estaria em situação de ilegalidade, sujeita a punição. Por outro lado, se um patrocinador tivesse colocado um troféu, isso não configura juridicamente um certame necessáriamente. Este troféu não teria carater oficial. Juridicamente teriamos uma partida amistosa oficial autorizada pela Fifa com a disputa de um troféu não oficial (configurando um torneio amistoso, uma competição não oficial). No caso da Copa Los Angeles a competição foi autorizada, sendo um troféu oficial da CSA em conformidade com o artigo 40 parágrafo 4 dos estatutos da FIFA de 1983. Ou seja uma competição oficial não regular porque foi disputada apenas uma única vez.
Em 1983, o Grêmio ganhou do América do México (1º campeão interamericano da Concacaf, edição de 1977, disputada em 1978; campeão do Torneio Regular do Campeonato Mexicano da temporada 1982/83 e campeão da Taça das Nações EUA de 1983, esta organizada também pela CSA) nos pênaltis, por 4×3, após um empate no tempo normal em 2×2.
Ao vencer o forte time do América do México conquistando assim a primeira e única edição da Copa Pan-Americana de Los Angeles em 1983, dois dias após a vitória sobre o Hamburgo da Alemanha, campeão europeu em Tóquio no Japão, o Grêmio confirmava o seu título de Campeão do Mundo. As palavras de Baidek, na época zagueiro do time, sintetizam bem o que significou essa vitória em Los Angeles: “se perdêssemos o jogo, todo mundo ia nos gozar e o título mundial seria manchado”.
Com o passar dos anos, a Copa Los Angeles foi equivocadamente confundida com a Copa Interamericana ou tratada como jogo amistoso. Na verdade trata-se de uma competição oficial não regular de caráter transitório experimental em conformidade com os estatutos e regulamentos da FIFA vigentes na época.
Com o cancelamento da edição da Copa Interamericana daquele ano, a Copa Los Angeles passou a ser à única competição oficial de nível pan-americano entre clubes em 1983 fato que a torna relevante.
Claus Farina - músico, compositor, historiador e membro do grupo Dimensão Experimental
