quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Pink Floyd no Cinema - More 1969 no Clube de Cultura - Quinta dia 24/11/2016


Amanhã, quinta feira dia 24/11/2016, no Clube de Cultura de Porto Alegre, rua Ramiro Barcelos, 1853, acontecerá a segunda exibição do ciclo "Pink Floyd no Cinema" com o filme More de 1969.


O diretor Barbet Schroeder, nascido no Irã, naturalizado francês, começou no cinema participando ativamente em alguns filmes da nouvelle vague, como produtor e ator. Sua estreia na atuação foi no curta La boulangère de Monceau (idem, 1963), de Eric Rohmer, e mais tarde já estava em filmes de Jean-Luc Godard do início da década de 60, como Tempo de Guerra (Les Carabiniers, 1963) e no coletivo Paris Visto Por... (Paris vu par..., 1965). Portanto, foi grande o envolvimento e a influência que o então jovem Schroeder recebeu de nomes tais como Claude Chabrol, Jean Douchet, Eric Rohmer e Jacques Rivette.

Alguns anos mais tarde, sua carreira se solidificaria mesmo na cadeira de direção. Mas, apesar de toda a influência de seus contemporâneos, seria errado classificar Barbet Schroeder como um autor da nouvelle vague – ainda que seus filmes apresentem diversas características temáticas e estilísticas em comum, por assim dizer. O ano de 1969 marca a sua estreia como diretor, com o clássico cult More (1969), um curiosíssimo filme rodado em diversos países, que versa sobre juventude, liberdade, drogas e psicodelia – um retrato cultural bastante denso e simbólico do final daquela década.

Sinopse

Recém formado em matemática, o jovem alemão Stefan Brückner (Klaus Grünberg) está com o pé na estrada, à beira do acostamento, pedindo carona rumo ao novo, ao incerto, ao inesperado. O tempo está nebuloso, a chuva é intensa, a música tema de abertura do filme é não diegética experimental, quando o som é ouvido apenas pelo público e não pelos personagens. Uma busca desesperada por redenção, para um sentido para a vida, ou pela própria vida – ecos do argumento do então sucesso recente A Primeira Noite de Um Homem (The Graduate, 1967) já nas primeiras cenas. Chegará a Paris, sem lenço e sem documento, onde em uma festa conhece e se apaixona por Estelle Miller (Mimsy Farmer), não por acaso justamente uma norte-americana, loira de emblemáticos cabelos curtos, libertária, usuária de heroína. Uma resposta a busca de Stefan.




O que se vê dali em diante é a aventura de um casal que vive os anos 60 como supostamente teriam sido vividos: fuga pelas estradas, viagens lisérgicas, sobretudo o paradoxo que custou a revolução cultural da época: a liberdade e a autodestruição. Enquanto o casal tem seu itinerário insólito, a paisagem de Ibiza, um dos belos destinos, contribui para o clima místico e misterioso que paira sobre a obra. É possível identificar uma forte influência de Godard, principalmente de O Demônio das Onze Horas (Pierrot le fou, 1965) e Acossado (À bout de souffle, 1960), entretanto More jamais teve a relevância desses filmes – é underground por natureza. Talvez seja muito mais conhecido por sua trilha sonora do que por seus méritos cinematográficos.


Barbet Schroeder convidou o Pink Floyd, que era a mais pura vanguarda musical da época, para realizar a trilha do filme. As performances genuinamente malucas de início de carreira, que misturavam rock, pop, música erudita contemporânea, sons, ruídos eletroacústicos e música clássica, fantasia e delírio, foram habilmente mescladas com as sequências do filme, que resultam em momentos de pura poética audiovisual. Como se as imagens e toda a narrativa estivessem possuídas, dominadas por uma possessão de natureza esotérica, destinadas a um rumo soturno e sem volta.


Numa das cenas mais interessantes, Stefan, alucinado, corre em direção a um moinho, e luta contra ele. Uma menção direta ao livro Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, e ligeiramente óbvia, se não fosse o teor lisérgico da tomada. Esta imagem acabou por se tornar a capa do disco do Pink Floyd, chamado Original Motion Picture Soundtrack from the film More. O resultado ficou tão interessante que logo em seguida Michelangelo Antonioni escalou o grupo para participar da trilha de Zabriskie Point(idem, 1970). A banda quase acabou se destinando a ser uma especialista em trilha sonora de filmes, visto que até Stanley Kubrick relutou para que participassem de Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971), o que de última hora foi evitado por Roger Waters – a suíte Atom Heart Mother, que abre o disco homônimo, e se estende por todo o lado A, deveria estar no filme – uma polêmica não totalmente esclarecida até hoje. Mais tarde a banda participaria da trilha de diversos outros filmes, e viriam ainda o musical The Wall (idem, 1982), de Alan Parker, e até mesmo a questionável coincidência da combinação entre o disco The Dark Side Of The Moon e O Mágico de Oz (The Wizard of Oz, 1939).

Este filme é muito, muito famoso entre os fãs de Pink Floyd, principalmente aqueles fãs mais interessados em seus trabalhos experimentais, feitos entre 1966 e 1972. O porquê disso, é : a trilha sonora do filme é, sim , o disco "Music from the film More", popularmente conhecido como "More". Todas as faixas executadas ao longo do filme são de autoria do Pink Floyd, e em grande parte são instrumentais.

Uma das características da trilha sonora de More, a exceção do tema de abertura, é que o diretor Barbet Schroeder queria que a música fosse diegética, isto é, o que os personagens ouvem é o mesmo que o publico esta escutando ao assistir o filme. Isso fica evidente quando em um determinado momento, a musica do filme para, e a câmera foca a fita cassete parada para demonstrar que a trilha ouvida pelos expectadores é a mesma dos personagens, uma novidade na época.


Muitos fãs não conseguem identificar o álbum More como um trabalho normal da banda, pois de longe é um dos que tem as músicas mais experimentais ou instrumentais. Isso envolve o filme de uma maneira extraordinária, o que torna a trilha sonora muito mais do que um complemento.
A interação filme-música é simplesmente fantástica.



More - 1969

Lado A
1. "Cirrus Minor" (Waters) - 5:18
2. "The Nile Song" (Waters) - 3:26
3. "Crying Song" (Waters) - 3:33
4. "Up the Khyber" (Mason, Wright) - 2:12
5. "Green Is the Colour" (Waters) - 2:58
6. "Cymbaline" (Waters) - 4:50
7. "Party Sequence" (Wright, Waters, Mason, Gilmour) - 1:07

Lado B
1. "Main Theme"(Wright, Waters, Mason, Gilmour) - 5:28
2. "Ibiza Bar" (Wright, Waters, Mason, Gilmour)- 3:19
3. "More Blues" (Wright, Waters, Mason, Gilmour)- 2:12
4. "Quicksilver" (Wright, Waters, Mason, Gilmour)- 7:13
5. "A Spanish Piece" (Gilmour) - 1:05
6. "Dramatic Theme" (Wright, Waters, Mason, Gilmour) - 2:15


David Gilmour - guitarra, violão, vocais, efeitos
Roger Waters - baixo, gongo, violão, vocais
Nick Mason - bateria, percussão
Richard Wright - teclados, vibrafone, vocais

O grupo Dimensão Experimental apoia mais essa iniciativa do Clube de Cultura.

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