sexta-feira, 16 de setembro de 2011

DIM3NSÃO EXPERIMENTAL – MITO, MÚSICA, CINEMA E MEMÓRIA


Foto: José Altamirio

Foto Arthur Castilhos

Foto Nasa

Foto Arthur Castilhos

Foto; Arthur Castilhos






Les Mystères du Chateu du Dé (1929) de Man Ray

Caricatura de autoria de Marcus Schulten
Outubro será um mes ativo para o grupo Dimensão Experimental. No dia 17 (segunda feira) ás 19 horas no Cinebancários rua General Câmara 424 vai acontecer a terceira edição do projeto autoral "Música, Cinema e Memória" com entrada franca.
Na mesma semana grupo Dimensão Experimental apresentará na Fundação Ecarta no dia 22/10/2011 (sábado)ás 18 horas, um resumo de seus dois projetos similares, uma vez que se interligam através da música e do cinema: “O Mito do Eterno Retorno” e “Música, Cinema e Memória”, que juntos totalizam 45 minutos de projeção e performance músical. Entrada Franca

SINOPSE: do show “Dim3nsão Experimental – Mito, Música, Cinema e Memória” na Fundação Ecarta.

Com uma atmosfera sonora que busca combinar a tecnologia e acústica, o grupo Dimensão Experimental tem como proposta musical a fusão do erudito e o popular com o jazz e o rock progressivo-experimental criando com isto uma estética própria, através de seqüências harmônicas por vezes pouco convencionais servindo-se como complemento, de películas e imagens digitalizadas, podendo ser uma evocação ou assimilação das vanguardas históricas, enquanto ruptura com produções conformistas contrastando passado e presente por meio das diversas formas de expressão cultural do homem, de lado a lado com o tempo e o cotidiano.
O show é dividido em duas partes: a primeira, consiste na suíte homônima inspirada na obra “O Mito do Eterno Retorno” de Mircea Eliade, com a projeção de uma colagem de vídeos feitos de partes de vários filmes em torno do tema do livro.

A segunda parte da apresentação será performado musicalmente o filme Lês Mystères du Chateau du Dé (1929) de Man Ray que faz parte do projeto “Música Cinema e Memória”, visando resgatar um pouco da magia do cinema mudo. Em ambos os trabalhos a música é autoral e classificada em termos cinematográficos como “não diegética” e “meta diegética”.

O MITO DO ETERNO RETORNO

“O Mito do Eterno Retorno” é o título de um livro do escritor e historiador das religiões o romeno Mircea Eliade que aborda a questão da mitologia como algo forjado nas sociedades segmentarias, totalizantes; quando a sociedade ainda não é passível de separação em economia, política e religião, quando ainda não possui uma dicotomia entre tempo sagrado e profano, ou mesmo em espaço sagrado e profano. A mitologia assim transpassa e está presente em todos os momentos desta sociedade.
A Mitologia nestas sociedades é a verdade absoluta transmitida pelos “fundadores”, das respectivas culturas, num tempo anterior ao tempo que se vive. Sua veracidade e credibilidade jamais são questionadas, em outras palavras o mito vale por si mesmo.
A mitologia é responsável pelo modelo de reprodução de uma sociedade, contendo nela todo o exemplo de como se deve agir, viver e morrer, e mais, contendo ainda as respostas de como as coisas passaram a existir, ela não deve ser esquecida nunca. Dentro das narrações míticas se esconde o aspecto do inconsciente coletivo, que encerra uma verdade. Isso se dava, na medida em que tocava profundamente o homem, um ser mortal, organizado em sociedade, obrigando a trabalhar para viver, submetido a acontecimentos, nem sempre imprevistos, que independiam de sua vontade. Na medida em que estas figurações (ou arquétipos) eram retratos relativamente fiéis dos acontecimentos psíquicos, os arquétipos, ou melhor, as características gerais que se destacavam no conjunto das repetições de experiências semelhantes, também correspondiam a certas características do pensamento mítico.

“O sagrado e o profano constituem duas modalidades de ser no mundo. As concepções do ser e da realidade podem ser detectadas no comportamento do homem das sociedades pré-modernas, compreendendo estas tanto o mundo a que geralmente chamamos «primitivo» como as antigas culturas da Ásia, da Europa, da Africa e da América. As concepções fundamentais das sociedades tradicionais e em particular a recusa que elas fazem do tempo histórico, assim como a nostalgia que sentem do tempo mítico (ciclico) das origens, não deixa de constituir uma introdução a uma filosofia da história. Assim como a “Natureza” é o produto de uma secularização progressiva do Cosmos, também o homem profano é o resultado de uma dessacralização da existência humana, não podendo abolir definitivamente seu passado, porque ele próprio é produto desse passado”.
Trechos de “O Mito do Eterno Retorno” e “O Sagrado e o Profano” de Mircea Eliade.

A performance musical conta com uma projeção de de uma colagem de filmes baseadas não só na obra de Eliade mas também de uma interpretação livre e subjetiva.

MÚSICA, CINEMA E MEMÓRIA.

(Musicando obras do cinema de vanguarda da década de 20 do século XX)

Para grande parte do público, cinema experimental soa como coisa distante, inacessível. Uma experiência para iniciados. O projeto “Musica Cinema e Memória” de autoria do grupo de música instrumental DIMENSÃO EXPERIMENTAL apresentado no na Sala de Cinema Paulo Amorim na CCMQ e no CINEBANCÁRIOS desde 2010 vem mostrando que esta é uma idéia equivocada, afinal, descobrir novas possibilidades da linguagem cinematográfica é tarefa que tem acompanhado os criadores do cinema desde os primeiros tempos. Em 1911, o poeta e jornalista italiano Ricciotto Canuto, amigo de Apollinaire, Braque e Fernand Léger, publicou uma espécie de panfleto intitulado Manifesto das Sete Artes, no qual defendia, para a chamada ‘sétima arte’, total autonomia da narrativa da literatura e do teatro. O cinema, para Canuto, não usava a ‘camisa-de-força’ do roteiro. Deveria ser uma experiência livre, tanto em sua abordagem artística quanto no conteúdo.

O Avant-Garde

Após a Primeira Guerra Mundial, a intranqüilidade econômica, política e social fragmentou os pontos de vista tradicionais, possibilitando a formação de um terreno fértil no plano cinematográfico.
O crítico e escritor Louis Delluc evidenciava na França o descontentamento com filmes comerciais, enquanto os artistas de vanguarda começavam a se interessar pela linguagem cinematográfica.

”Nos dez anos compreendidos entre 1921 e 1931, desenvolveu-se um movimento artístico independente na cinematografia. Este movimento denominou-se Avant-Garde. Este movimento de arte em filme foi paralelo a movimentos nas artes plásticas tais como o Expressionismo, o Futurismo, o Cubismo e o Dadaísmo. Foi não comercial, não representacional, mas internacional”. (Hans Richter in Art and Cinema, 1947).

Foram vários os cineastas que produziram cinema de vanguarda neste período e alguns traços marcantes destacamos: o evidente interesse em não agradar nem lisonjear o gosto do público; desejo de criar algo novo a qualquer preço virando as costas a toda a tradição literária e artística; menosprezo do argumento e do enredo, em benefício da livre fantasia e da divagação poética eximida de todo imperativo estético ou moral e a busca de um surrealismo irredutível ao mundo da inteligência, da lógica e da clara consciência, que nascerá de uma utilização da linguagem cinematográfica destinada a criar o insólito. Os filmes de Avant-Garde foram algumas vezes denominados de “cinema absoluto” ou de “cinema puro” devido sua ênfase nos valores rítmicos e estéticos.
A partir de 1930, surge uma conjuntura política de regimes totalitários que defende ideais conservadores extremamente hostis a todo movimento de vanguarda. Tais governos vão encarar o Avant-Garde como uma forma degenerada de arte e muitos vão chegar a censurar as obras e perseguir os realizadores. Além disso, as amargas realidades da depressão econômica forçavam os artistas a engajarem-se sociológica e politicamente. Portanto, as perspectivas da arte de vanguarda tornam-se remotas e sombrias, fazendo com que alguns criadores abandonassem a cinematografia ou realizassem filmes de caráter comercial, migrassem para a América, ou tornarem-se clandestinos.

“Les Mystères du Château de Dé” (1929) – 20 min. – Man Ray

Les Mystères de Château de Dé é um filme surrealista, um jogo pitoresco improvisado de Man Ray num período em que esteve como convidado no Castelo do Conde de Noailles. O filme retrata dois viajantes partindo de Paris para a Villa Nailles, em Hyères. A jornada começa quando os dois personagens mascarados em um café à noite decidem suas ações jogando dados. As mãos são de manequim e os rostos sem detalhes. Em seguida a dupla parte em busca de seu destino, viajando pelo interior da França, chegando a um Castelo moderno porem com partes antigas. Elementos do exterior e interior do castelo são apresentados em relações de várias texturas mostrando inclusive esculturas de Pablo Picasso e Joan Miró, assim como um jardim cubista em Vila Noailles. Finalmente, somos apresentados a quatro invasores que jogando dados renunciam a sua sorte partindo para uma piscina coberta fazendo malabarismos até sumirem na tela. O Movimento da câmera externa mostra os dois viajantes chegando ao local novamente jogando dados se preparando para passar a noite levando o filme a um final abrupto. Les Myteres du Château de Dé foi o filme mais longo que Man Ray dirigiu em sua carreira.
ROTEIRO DO SHOW
1– O Mito do Eterno Retorno (Farina/Sabóia) - Suíte em seis movimentos baseado no livro homônimo de Mircea Eliade.
I - Groaperikie (Farina/Sabóia)
II - Arquétipos e Repetições (Farina/Sabóia)
III - A Lenda de Naylamp (Farina/Sabóia)
IV - A Regeneração do Tempo (Farina/Sabóia)
V - Ciclos Cósmicos e História (Farina)
VI - A Sobrevivência do Mito do Eterno Retorno (Farina)
Arranjos: Dimensão Experimental. Tempo aproximado da suíte: 25 min.

2 – Os Mistérios do Castelo de Dados - Suíte em seis movimentos (Concepção original de autoria de Klaus Farina com colaboração adicional de Álvaro Sabóia no sexto movimento)
I - Os viajantes: um jogar de dados jamais anulará a sorte. (Farina)
II - Viajando a um estranho destino, um castelo.(Farina)
III - Personne, personne: Les Secrets de la Peinture.(Farina)
IV - Piscinema: um jogar de dados jamais anulará a sorte.(Farina)
V - Minerve Casquée.(Farina)
VI - Dois passageiros que permanecerão. (Farina/Sabóia)
Arranjos: Dimensão Experimental. Tempo aproximado da suíte 20 min.
Tempo total estimado 45 min.

O Grupo Dimensão Experimental é constituído atualmente por:
José Altamiro – Percussão Acústica / Lira Metálica / Escaleta
Álvaro Saboia - Teclados / Gaitas de Boca (Harmônica e Cromática) /Apitos
Klaus Farina - Teclados / Guitarra / Flauta /Apitos / Ocarina / Programação / Percussão Eletrônica

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