sexta-feira, 26 de junho de 2015

Cinema no Arquivo - Curta no Almoço com Man Ray, Luis Buñoel e Salvador Dali


No próximo dia primeiro de julho de 2015, no APERS, rua Riachuelo 1031, ás 12 horas, com entrada franca, vai acontecer mais uma edição do projeto Cinema no Arquivo - Curta no Almoço, apresentado três filmes experimentais dos anos 1920, do movimento avant-garde, os trabalhos surrealistas de Man Ray, Luis Buñoel e Salvador Dali.
Após os horrores da primeira guerra mundial, ocorreu uma grande mudança de comportamento, a vida passou a ser mais valorizada em seus detalhes.
Um grupo variado de intelectuais, que desde a década anterior, vinha tentando se estabelecer, emergiu propondo novas formas de se fazer arte, provocando rupturas com o passado na música, literatura, nas artes plásticas, no teatro e no cinema. No cinema, eclode o movimento avant-garde, propondo um cinema desvinculado das narrativas tradicionais. O objetivo era muitas vezes chocar o público. Man Ray fez isso com Le Retour a La Raison de 1923. Um filme de pouco mais de 2 minutos, onde aparecem fotogramas de pregos em negativo, misturado a molas , batatas, papeis e outros elementos criando um visual bizarro e abstrato, onde a unica imagem humana é uma mulher com o dorso nu e com os seis a mostra. O resultado, foi uma enorme vaia e a interrupção do filme antes do fim do primeiro minuto de projeção. Talvez, pensando nisso, Man Ray produziu em 1926, Emak Bakia (em basco: deixem-me em paz), um marco do cinema avant-garde dos anos 1920. Man Ray faria em 1928, L'Étoile de Mer e em 1929, Les Mystères de Château de Dé, outros dois grandes trabalhos. Na mesma época (1929), Luis Buñoel e Salvador Dali estrearam "Um cão Andaluz", outro marco do cinema surrealista. Apropriando-se de metáforas, arquétipos psicanalíticas e simbolismos, Buñoel e Dali criticaram a sociedade burguesa atacando o conservadorismo e a religião.

O grupo Dimensão Experimental musicou "Les Mystères de Château de Dé" de Man Ray, com uma suíte em seis movimentos, denominada "Os Mistérios do Castelo de Dados" e o performou ao vivo em várias ocasiões.
O grupo Dimensão Experimental, cujo projeto "Música, Cinema e Memória" que tem como objetivo o resgate e uma releitura da linguagem do cinema silencioso, apóia este projeto do APERS.



Man Ray – Emak Bakia (1926 – França) 16 min.

Emak Bakia (1926, França), que em basco significa “Deixe-me em paz”, é um cine poema surrealista, livre dos dramas psicológicos ou policiais do cinema, que vê e monta o que vê, que faz montagem desde o instante em que seleciona o fragmento que vê, além do imediatamente visível, do que pode ser percebido pelo olho humano. Filmar ideias, não objetos, filmar a luz e o movimento, e não propriamente o que está iluminado e se movimenta. Man Ray não tinha a intenção de reproduzir o mundo tal qual ele é, senão o de reinventá-lo, ou mais precisamente o de reinventar o olhar e permitir que a vida fosse vista tal como ela é, todo o tempo em movimento, a vida que se vive primeiro em sonho e, depois, na realidade, ou a que se vive primeiro na realidade e depois em pesadelo.




Man Ray - Les Mystères de Château de Dé (1929 – França) 20 min.


Les Mystères du Château du Dé (1929, França) é um filme surrealista, um jogo pitoresco improvisado de Man Ray, em um período que esteve hospedado no Castelo do Conde de Noailles. O filme retrata dois viajantes que estão indo de Paris a Villa Nailles, em Hyères. A jornada começa quando os dois personagens mascarados em um café, à noite, decidem suas ações nos dados. As mãos são de manequim e os rostos sem detalhes. Em seguida, a dupla parte em busca de seu destino, viajando pelo interior da França, chegando a um Castelo moderno com partes antigas. Elementos do exterior e do interior do castelo são apresentados na relação de várias texturas, mostrando inclusive esculturas de Pablo Picasso e Joan Miró, assim como um jardim cubista em Vila Noailles. Finalmente, somos apresentados a quatro invasores que, jogando os dados, renunciam a sua sorte indo para uma piscina coberta, fazendo malabarismos até sumirem na tela. O movimento da câmera externa mostra os dois viajantes chegando ao local, novamente jogando os dados e se preparando para passar a noite, levando o filme a um final abrupto. Les Myteres du Château de Dé foi o filme mais longo que Man Ray dirigiu em sua carreira.




Luis Buñuel e Salvador Dali – Um Cão Andaluz (1929 - Espanha) 21 min.

Um Cão Andaluz (1929, Espanha), representa o vislumbrar de um novo conceito de cinema, de luz sobre a arte em geral. Apenas alguns minutos contam (ou desestruturam) a história de um casal por meio de uma visão onírica, por vezes cruel, profundamente psicanalítica, mas sobretudo vanguardista da sétima arte.
Seu roteiro não é linear e tampouco a prima facie parece fazer algum sentido lógico. Como em um emaranhado de cenas que parecem não ter qualquer ligação entre si, o filme transita entre o real e o imaginário, entre o concreto e a fragmentação. Uma visão da sociedade pós-guerra da época e de seus elementos humanos.

Texto e releases: Klaus Farina


Dimensão Experimental ao vivo na sala de cinema Eduardo Hirtz (CCMQ) em 2012.

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