quarta-feira, 24 de maio de 2017

Ciclo Herzog - O Enigma de Kaspar Hauser - 1974 - Amanhã no Clube de Cultura dia 25/05/2017


O Cine Clube de Cultura tem por objetivo apresentar filmes de vários períodos e de diversas nacionalidades, pouco conhecidos do grande público e que estão fora do circuito comercial.

No mês de maio, serão exibidos os 4 primeiros longas-metragens de ficção do premiado diretor alemão Werner Herzog, que possui uma extensa filmografia.

04/05/2017 - Sinais de Vida (1968 - Drama - 1h 35m)
11/05/2017 - Os Anões Também Começaram Pequenos (1970 - Comédia dramática/Drama - 1h 36m)
18/05/2017 - Aguirre, a Cólera dos Deuses (1972 - Drama/Ficção histórica - 1h 34m)
25/05/2017 - O Enigma de Kaspar Hauser (1974 - Drama/Ficção histórica - 1h 50m)

A entrada é franca e não necessita de agendamento prévio.


Local: Clube de Cultura de Porto Alegre - Ramiro Barcelos, 1853
Horário: 19h30

Amanhã dia 25 será a vez de O Enigma de Kaspar Hauser.


O Enigma de Kaspar Hauser
1974 ‧ Drama/Ficção histórica ‧ 1h 50m
Kaspar Hauser está perdido e não consegue falar ou se locomover quando é encontrado nos anos 1820. Ele passou a vida toda trancado, sendo espancado e sem qualquer convívio humano. As pessoas que o encontram tentam civilizá-lo.
Data de lançamento: 1 de novembro de 1974 (Alemanha Ocidental)
Direção: Werner Herzog
Música composta por: Florian Fricke
Idiomas: Língua inglesa, Língua alemã
Personagens: Professor Daumer, Frau Hiltel,


SINOPSE E DETALHES
Um homem jovem chamado Kaspar Hauser (Bruno S.) aparece de repente na cidade de Nuremberg em 1828, e mal consegue falar ou andar, além de portar um estranho bilhete. Logo é descoberto que sua aparição misteriosa se deve ao fato de que ele ficou trancado toda sua vida em um cativeiro, desconhecendo toda a existência exterior. Quando ele é solto nas ruas sem motivo, muitas pessoas decidem ajudá-lo a se integrar na sociedade, mas rapidamente Kaspar se transforma em uma atração popular.

Analise


Mais do que um ser sem linguagem ou convívio social, o Kaspar de Herzog é um indivíduo sem instituições e suas convenções. E, quando inserido nelas abruptamente, um ser no qual as suas relações de poder e força não repercutiam. É o que o diretor nos mostra repetidamente durante todo o processo de adaptação do personagem à sociedade. Kaspar é confrontado pela lógica da Igreja, do Estado (que o transforma em espetáculo), da filosofia e da aristocracia. E, em cada um desses momentos, sua inadequação é gritante. Ele possui uma lógica de pensamento que não se enquadra. A música, os sonhos, a poesia e a natureza são as linhas de fuga que tornam a sua existência suportável para ele mesmo. E a violência de um assassinato a facadas parece ser a única forma de, de fato, penetrá-lo.
Como formula Michel Foucault no seu belo texto, A vida dos homens infames, o registro incessante da vida do homem comum por meio do processo de documentação oficial acaba por gerar uma nova relação entre o poder, o discurso e o cotidiano: uma nova mise en scène. E assim cabe a Kaspar, a cada momento, um papel diferente: primeiro, o prisioneiro com o qual o Estado não sabe o que fazer; em seguida, a atração de circo e, por fim, o pupilo esforçado de um pensador. Obviamente, nenhum desses papéis o convém.


Somos levados por Herzog para as imagens do sonho recorrente do personagem, da sua história inacabada — um deserto com uma caravana perdida guiada por um homem cego. Tanto quanto Kaspar, somos inadequados aquele tempo e as suas instituições, isso é o que nos grita o filme o tempo inteiro. Nós também preferimos o cinema do delírio, que assim como seu personagem, Herzog pouco pode desenvolver nessa história. Resta-nos a figura cômica do escrivão e das suas certezas discursivas, tão risíveis no prisma das nossas novas convenções — último truque do diretor, que por fim põe em joga nossa própria ignorância. Se Herzog não abandona uma questão ao longo de sua filmografia é a de que: o que é um ser humano e quais são os seus limites.

O grupo Dimensão Experimental apoia mais essa iniciativa do Clube de Cultura de Porto Alegre

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