terça-feira, 12 de maio de 2015

Cinema no Arquivo: Curta no Almoço


Na próxima quarta-feira, 13 de maio, a partir das 12h, o APERS apresentará 04 curtas-metragens com temática voltada ao meio ambiente: Inhabitants, do armênio Artavazd Peleshian; H2O, do norte-americano Ralph Steiner; Regen, do holandês Joris Ivens; e Ilha das Flores, do gaúcho Jorge Furtado.

A entrada é franca e não precisa de agendamento prévio. Participe!

Dimensão Experimental no DMAE em 2012.

Dimensão Experimental performando H2O de Ralph Steiner (1929) em 2012 no DMAE.

O grupo Dimensão Experimental, que no próximo dia 30 de maio, vai apresentar no Clube de Cultura, o audiovisual "1914", como parte da programação de 65 anos da entidade, apoia mais essa iniciativa do APERS. Esta instituição do Estado, está se firmando aos poucos como local para sessões de filmes fora do circuito comercial e desconhecidos do grande público como: H2O, Inhabitants e Regen. Ilha das Flores já é um trabalho mais conhecido e dispensa maiores apresentações. O projeto Música, Cinema e Memória de autoria do grupo Dimensão Experimental, que tem por objetivo o resgate e uma releitura da linguagem do cinema silencioso, já musicou e performou ao vivo alguns destes filmes que serão apresentados no APERS como: H2O de Ralph Steiner e Regen de Joris Ivens.

Confira abaixo a sinopse de cada curta.

Inhabitants – Artavazd Peleshian (1970 – Armênia) 8min.


Produzido em 1970, Inhabitants retrata a vida selvagem em momentos de pânico. À primeira vista, o filme apresenta-se com um tom anti-humanidade. Em Inhabitants, Pelechian parece estar voltado para o modo indiscutivelmente cínico de ”Au début” de 1967. Entretanto, uma vez que você começa a ver que os humanos no filme não são exatamente seres humanos, a fé de Pelechian na humanidade vem à tona. Em Inhabitants, Pelechian manipula o tempo e o som (duração de tomadas longas, reforçadas por áudio e música) através da montagem como forma de demonstrar as manifestações da natureza, e como as pessoas interagem com a mesma. No filme, o homem está presente como predador, mesmo que não apareça em nenhuma cena. Sua presença, porém, se faz sentir em especial quando Pelechian introduz sons de tiros.em uma sequência de animais correndo em fuga, como se estivessem buscando um lugar seguro do predador invisível, ou nas cenas em que aparecem animais enjaulados, em contraste ao voo dos pássaros que sugere a ideia de liberdade. Metaforicamente, Pelechian parece demonstrar, por meio da natureza, o confronto da própria humanidade consigo mesma.


H2O – Ralph Steiner (1929 – EUA) 12min.



H2O é um filme rápido e experimental que tem como tema a água em todas as suas formas. É um estudo clássico das amostras de luz e de texturas sobre a superfície da água, um tipo de poema cinematográfico que enfatiza o ritmo e as alterações por meio das qualidades visuais das imagens e da estrutura da edição. Esta concentração de padrões de movimento, sombreamento e textura fazem de H2O uma obra-prima, que, junto a Regen, de Joris Ivens, são considerados os dois primeiros filmes com temática ambiental da história do cinema.


Ralph Steiner (1899-1986), fotógrafo americano e cineasta. Após sua graduação 1921 do Dartmouth College, onde aprendeu técnicas de fotografia, Steiner se mudou para New York e estudou na Clarence H. White School of Photography. Cada vez mais socialmente engajado, Steiner voltou-se para um estilo de documentário mais realista. A mudança é particularmente evidente em seus filmes: o resumo do estudo inicial de água e luz, H 2 O (1929). Um filme rápido e experimental composto em torno do tema da água em todas as suas formas. Um estudo clássico das amostras de luz e texturas sobre a superfície da água Como um tipo de poema cinematográfico enfatizando o ritmo e alterações através das qualidades visuais das imagens e da estrutura da edição. Quando o cineasta move a câmera mais próxima da superfície reflexiva, as imagens tornam-se mais abstratas e visualmente dramáticas. Esta concentração de padrões de movimento, sombreamento e textura fazem de H 2 O uma obra prima.


Regen – Joris Ivens (1929 – Holanda) 14min.


Regen é um poema em movimento sobre a chuva em Amsterdã. Este filme é uma composição impressionista e segue seu rumo musical. O realizador, que filmou em diversos locais da cidade, demorou mais de dois anos para cinematografar cenas de chuva suficientes para conseguir compor o filme.


Em 1929, quando o cinema migrava para o sonoro, um jovem documentarista holandês, Joris Ivens, realizou um pequeno milagre chamado Regen (Chuva). O filme, de 14 minutos, ainda mudo, foi o resultado de meses a fio de filmagem meticulosamente editada. E tem como trunfo um ritmo exuberante que busca acompanhar a importância da água dentro da paisagem e do quotidiano de uma cidade tão marcada pela presença dela como Amsterdã. O dispositivo adotado por Ivens passa sobretudo pelo de aproximar a água da chuva de outras superfícies igualmente úmidas ou refratárias dessa umidade: canais, calhas, poças, cisternas, clarabóias, coxias, vitrines, vidraças, o asfalto molhado, etc. Num dos planos mais belos, capta-se o rastro de luz que água deixa sobre a cobertura preta dos guarda-chuvas. A chuva mercadejando com transparências: o vidro, a lisura líquida dos espelhos [será que dessa placidez líquida vem a expressão “espelho d’água”?]. Boa parte da poesia de Regen vem dessa refração. Uma notícia cifrada em água. Em água caindo sobre água. E, assim, o filme de Ivens recompõe com que uma sorte de poesia metereológica muito simples e sua: os ritmos dessa cidade profundamente afetada tanto pela água que cai, quanto pela que lhe meandra em margens e direções diversas. A cidade dos canais. [Amsterdã quer dizer “foz em delta do Rio Armst”]. Coordenadas cartesianas imaginadas sob a perspectiva do úmido. E, depois, desorientadas sob uma poesia curva, que implicaria numa desaprovação do austero Mondrian – para mencionar outro mestre holandês. Talvez. A chuva tem esse dom sumpremo de instalar talvezes no espírito.


O que mais encanta em Regen são os ritmos. Gente afetada pela chuva. Convivendo com ela de diferentes modos. E, como, diria Bresson, os ritmos são todo-poderosos, traduzem “o vento invisível através da água que ele esculpe passando”. Como, em Regen, as três meninas que passam sob uma única capa de chuva distendida sobre suas cabeças. E cujos passos gentis são marcados por um ritmo indelevelmente quebrado, uma única vez, pela dissonância de um passo em falso – quase como se, de fato, entrasse, por meio desse passo avulso, a nota azul do jazz na harmonia da progressão. Mas antes disso há um prefácio. Entrevemos as nuvens densas se entrelaçando acima da cidade, e um avião abrindo sua via por um vão estreito no meio delas. E, então, em terra, o vento sopra forte na copa das árores, em roupas num varal improvisado sobre um convés de barco ancorado, um lençol estendido estufa-se diante de velhas fachadas, bandeiras despregam-se, a lona de um toldo quase é arrancada de sua armação, um bando de passáros sobrevoa em formação os velhos prédios de onde os holandeses saíram para uma saga marítima que quase rivaliza com a dos portugueses. E há esse plano em que a balaustrada de uma ponte, com uma luminária, destaca-se, oscilando suavemente sobre a água de um canal por não mais de quatro segundos. Mas esses segundos estão entre os mais preciosos – e precisos – da história do cinema e desse filme adorável. Regen é o filme de catorze minutos em que cada minuto concentra um século de lições de cinema. E não ao modo didático, frenético de um Vertov [que, de resto, não é menos instigante]; mas com a poesia, a gentileza e a humanidade dos dias em que o espírito se faz paz. E o mundo se reconcilia dentro da gente.

Ilha das Flores – Jorge Furtado (1989 – Brasil) 15min.


Um ácido e divertido retrato da mecânica da sociedade de consumo. Acompanhando a trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora, o curta escancara o processo de geração de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho.


Dimensão Experimental performando Tusalava (1929) de Len Lye, na Sala de Cinema Eduardo Hirtz (CCMQ) quando da participação do grupo no Fórum Social Mundial Temático de Porto Alegre edição 2012.

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