quinta-feira, 23 de julho de 2015

Fausto de Murnau no Clube de Cultura hoje - entrada franca


Hoje o Clube de Cultura de Porto Alegre, rua Ramiro Barcelos, 1853, a partir das 19 horas e 30 minutos, apresenta mais uma edição do projeto Cinema Livre com o filme Fausto de F. W. Murnau, baseado na obra de Goethe.

O grupo Dimensão Experimental apoia esta iniciativa do Clube de Cultura de Porto Alegre que possibilita ao público a oportunidade de ver filmes mudos de alta qualidade artística, passando longe dos enjoados, comerciais e neo-liberais filmes dos higienizados e sem graça Shoppings Centers de Porto Alegre..


Baseado na famosa peça de Goethe, temos Fausto, um velho alquimista que vê sua cidade ser assolada pela peste negra. Vendo tanta morte, começa a pensar sobre sua própria finitude. Ele então evoca Mefistofeles, e lhe pede sua juventude de volta e eterna. O demônio a garante, em troca da alma de Fausto. Tudo parecia perfeito, até este se apaixonar por uma jovem italiana. Marco absoluto no cinema alemão, é o último filme de Murnau no país.

DIREÇÃO: F.W. Murnau
GÊNERO: Drama / Fantasia / Terror
ANO: 1926
GÊNERO:
Gösta Ekman
Frida Richard
Camilla Horn
Emil Jannings
William Dieterle


Em 1926 Murnau trouxe ao cinema a alegoria de Fausto, o homem que se deixou tentar pelo demónio, numa produção de enorme beleza cénica. Tal seria a mais cara produção da UFA até “Metrópolis”, de Fritz Lang, com Murnau usando duas câmaras, ambas filmando diferentes planos e “takes”. Existiram mesmo diferentes variantes do filme, algumas preparadas pelo próprio Murnau, das quais restam hoje ainda cinco.
Assumindo desde o primeiro instante todo o carácter simbólico da história, ficam na memória momentos iniciais onde o bem e o mal são dispostos num jogo de luz e sombras, onde vemos os cavaleiros do apocalipse, a sombra de demoníaca sobre a cidade (de enorme beleza estética), e as pregações de Fausto. Cada cena funciona como um quadro religioso, tal o cuidado com que cada personagem é disposto na tela. Esse é o tom que marcará o resto do filme, fiel às características expressionistas, onde o detalhe cénico se esbate num jogo de luzes sombras.
O tema da fé será central à história, mas se é fundamental no plano terreno, onde a peste é vista como uma provação de Deus (“quem tem fé viverá, mas a morte irá levar os pecadores”), no plano espiritual serão as acções (o sacrifício de amor de Fausto por Gretchen) que irão salvar a sua alma da danação eterna. Pode ainda ver-se esta dicotomia como um conflito entre a tradição cristã (medieval, conservadora) e o modernismo, onde tal como Fausto, devemos convidar o mal, para podermos fazer o bem. Note-se como este Fausto, cedendo às trevas, buscará a luz em Gretchen, que vê pela primeira vez, iluminada na igreja.
Narrado a com um ritmo impetuoso, o filme brilha pelo cuidado colocado em cada plano, e pelo uso das sombras, que tornam cada cena, seja um interior, ou um exterior, de enorme beleza artística, como se de uma pintura se tratasse, visualmente caminhando numa linha subtil entre o estilizado e o realista.
O filme brilha ainda pelas interpretações de Emil Jannings, que compõe um demónio manipulador, astuto, mas ainda assim sedutor, e de Gösta Ekman, no papel do anti-herói, bem intencionado, mas atormentado pelas consequências das suas decisões.
Para muitos trata-se do melhor filme de Murnau, superior mesmo ao comercialmente mais famoso “Nosferatu”. É sem dúvida uma lição de bem filmar, que elevou imenso o patamar do cinema.

Fonte:Blog A Janela Encantada
https://ajanelaencantada.wordpress.com/2013/02/25/fausto-1926/

terça-feira, 21 de julho de 2015

Cinema no Arquivo: Curta no Almoço dia 22/07/2015





Na próxima quarta-feira, dia 22 de julho, a partir das 12h, o APERS (rua Riachuelo, 1031) apresenta mais uma edição do projeto Cinema no Arquivo - Curta no Almoço com projeção dos filmes A Concha e o Clérigo (Le Coquille et Clergyman), de Germaine Dulac, e Madame Tuti-Putli, de Chris Lavis e Maciek Szczerbowski no Auditório Marcos Justo Tramontini do Arquivo Público do RS. A entrada, pra o curta no almoço é franca, venha prestigiar!

Dimensão Experimental "1914" em versão DVD no Cinema no Arquivo - Curta no Almoço em agosto

O grupo Dimensão Experimental, que tem em seu projeto autoral "Música, Cinema e Memória", a proposta de uma releitura da linguagem do cinema silencioso, resgatando, portanto, em parte a magia do cinema mudo, apoia essa iniciativa do APERS, que oportuniza ao público filmes com temáticas e qualidade artísticas, que se distanciam do lugar comum dos filmes comerciais e das salas de cinemas neo-liberais dos Shopping-centers.




O grupo Dimensão Experimental apresentará em 12 de agosto no projeto Cinema no Arquivo - Curta no Almoço, uma versão em dvd do audiovisual "1914". O documentário musicado ao vivo (que teve o áudio gravado em dezembro passado em uma apresentação de fim de ano no Clube de Cultura) foi criado a partir de imagens coletadas no youtube sobre a primeira guerra mundial. Além de "1914", será apresentado no mesmo dia o curta "Brasil, um retorno a razão" de Klaus Farina (membro do grupo Dimensão Experimental). Em breve daremos maiores detalhes.


Sinopses dos filmes que serão apresentados amanhã no Cinema no Arquivo - Curta no Almoço:

Le Coquille et Clergyman (1928, França) é um filme surrealista de Germaine Dulac, inspirado num texto homônimo de Antonin Artaud. A trama gira em torno de um padre obcecado pela esposa de um general. O clérigo passa a ter visões estranhas sobre a morte e acaba lutando contra o próprio erotismo.





A madame Tutli-Putli (2007, França) embarca num trem noturno carregando todos os seus pertences, incluindo os fantasmas de seu passado. Ela viaja sozinha e encara, ao mesmo tempo, a bondade de alguns e o perigo iminente representado em outros. Quando o dia vai clareando, madame Tutli-Putli descobre-se numa aventura desesperada e metafísica. Vagando entre o real e o imaginário, ela confronta seus demônios numa corrente de mistério e suspense.




Chris Lavis e Maciek Szczerbowski



Desde 1997, Chris Lavis e Maciek Szczerbowski formaram a parceria artística chamada de Clyde Henry Productions. Sob esta norma de plume o par criou filmes premiados, anúncios e ilustrações. Eles receberam uma indicação ao Oscar pelo curta-metragem Madame Tutli-Putli (NFB 2007). Em 2010, escreveram e codirigiram Higglety Pigglety Pop! (Warner Bros, NFB), uma adaptação de Maurice Sendak que caracteriza a voz de Meryl Streep. Seu mais recente filme, Cochemare (PHI Films, 2013), recebeu o prêmio de melhor curta-metragem experimental no Festival de Cinema Guanajuato.


Fonte: www.acmefilmworks.com/directors/chris-lavis-maciek-szcerzbowski/


Germaine Dulac (Amiens, 1882 – Paris, 1942)



Militante feminista desde sua juventude e jornalista de grande rigor e crítica, ela é a segunda grande diretora do cinema mundial e uma das figuras-chave da vanguarda francesa dos anos 1920. Influenciada pela primeira grande realizadora Alice Guy-Blanché, Germanie Dulac teve na criação cinematográfica experimental uma de suas principais características, demonstrando toda sua percepção cênica e domínio da linguagem fílmica, realizando o curta-metragem O Padre e a Concha (La Coquille et le clergyman), em 1926 (lançado somente em 1928), antecipando em dois anos, parte do poder artístico que o surrealismo de Luís Buñuel imprimiria ao filme-marco do cinema surrealista, Um cão andaluz.

Alguns elementos são comuns às duas obras: erotismo e sexualidade, crítica à igreja, crítica ao poder (especialmente aos militares) e à burguesia, referências psicanalíticas, atemporalidade e rompimento com qualquer condição de narratividade clássica (literatura e teatro), podendo ser entendido como uma experiência tanto dadaísta como de um surrealismo experimental, cuja história se centra em três personagens: um padre, um general e sua noiva.

Após os horrores da primeira guerra mundial, a sociedade estava em completa transformação, a vanguarda artística dos anos 1920, incorporou toda uma profusão de acontecimentos e criações, que se fundiram na época, resultando em mudanças estruturais na concepção histórica com o surgimento da “Escola dos Annales”, indo além dos postulados de uma sociologia positivista -, na forma como as populações recebiam as notícias com a popularização do rádio, na forma como a arte e a música eram percebidas (as vanguardas, as dissonâncias e os dodecafonismos de Stravinski e Schönberg e o jazz) e na forma como as pessoas percebiam o tempo, o espaço e a si mesmas (a Teoria da Relatividade e as descobertas da psicanálise).

O filme de Dulac se equipara aos grandes artistas-cineastas-experimentadores do Cinema Avant-Garde, como Sergei Eisenstein, Man Ray, Abel Gance, Marcel Duchamp, René Clair, Fernand Legér, Hans Richter e Luís Buñuel, fazendo uso de uma arte que era resultado de um período histórico completamente diferente daquele em que viviam. O cinema deveria transcender a linear percepção do tempo e o confortável espaço absoluto para uma dimensão onde o símbolo e o enigma dialogavam na mesma velocidade que os acontecimentos sociais da época, sendo um instrumento artístico e revolucionário.

Por Klaus Farina – músico, compositor, historiador e produtor cultural
Revisão de texto: Angelita Silva – Técnica em Assuntos Culturais

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Cinema no Arquivo e Curta no Arquivo.


Uma programação bacana de cinema que o Arquivo Público está proporcionando para o público em geral. A proposta do projeto Cinema no Arquivo é uma grande oportunidade das pessoas curtirem filmes de alta qualidade, longe das massificadas "películas" neo-liberais comerciais dos Shopping Centers de Porto Alegre.



O grupo Dimensão Experimental, que tem no seu projeto autoral Música, Cinema e Memória, o resgate e uma re-interpretação da linguagem do cinema silencioso, apoia este projeto bem como o do Clube de Cultura de Porto Alegre.
Abaixo reproduzimos as matérias dos filmes que serão apresentados no Cinema no Arquivo de amanhã e da próxima quinta-feira dia 22 de julho e da exposição "Mundos de Fora e Mundos de Dentro, com trabalhos dos alunos da oficina de criação da professora Barbara Neubarth. A exposição dialoga com a temática do filme O Ilusionista que será apresentado amanhã.



Exposição Mundos de Dentro, Mundos de Fora
15/07/2015
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O Arquivo Público do RS, em parceria com a Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro, promove a exposição Mundos de dentro, mundos de fora.

2015.07.15 Exposição HSP cartaz

Nesta segunda-feira, 13 de julho, estreou, na sala Professor Joél Abílio Pinto dos Santos, no APERS, a exposição Mundos de dentro, mundos de fora, que dialoga com o filme O Ilusionista, de Jos Stelling, visto que ambos permeiam as relações entre o mundo exterior e o mundo interior que habita em cada um.

Até o dia 14 de agosto estarão disponíveis, para apreciação, “os trabalhos artísticos de Carlos Giovane de Oliveira, Jacqueline Krueger e Teresa Noeci Brito da Silva, frequentadores da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro, que, utilizando-se de diferentes linguagens artísticas, tramaram um fazer que é comum a nós humanos – o transitar entre o dentro e o fora. Como efeito desta faina, surgem obras que revelam com extrema sutileza marcas particulares.



2015.07.15 Colagens Carlos GiovaneAs colagens de Carlos Giovane são rigorosamente planejadas, mas o rigor com que ele as executa nem por isto torna o trabalho pesado. Partindo da escolha da cor do suporte, segue com um rascunho de medidas adequadas a diferentes formas geométricas. Utilizando-se de papel vegetal e carbono, copia o estudo no suporte e inicia a triagem dos papéis multicoloridos. Recortados e cuidadosamente colados, os pequenos fragmentos que compõem cada um dos quadros estrutura-se simetricamente, como se fosse um caleidoscópio – esta imagem bonita de se olhar.


2015.07.15 Desenhos JacquelinePara dar forma a seus desenhos, Jacqueline utiliza canetas em espessuras diversas. Em muitas vezes ela é evidente na figuração e quase se enxergam as árvores, as florestas, uns e outros animais. Em outros momentos, ela deixa ao expectador a possibilidade de presumir, através do sentido e força do tracejar, quer na fragmentação e no adensamento das linhas ou nos espaços vazios ou saturados. O olhar alheio pode, então, fazer infinitos caminhos, diferentes leituras, criar outras tantas histórias.


2015.07.15 Bordado Teresa NoeciTeresa Noeci se alegra em contar detalhadamente seu processo artístico, que inicia ao imaginar o vestido das meninas e segue no risco do lápis sobre o tecido. Em seguida, agulha e linha fazem aparecer o contorno do bordado. Não menos importante é, para ela, a escolha cuidadosa das cores de tecidos e linhas e do par de sapatos, tudo em combinação com a cor da pele, negra ou branca. É quando comenta Teresa, nem bem termino uma das meninas e a próxima já aparece na minha imaginação”.

Fonte: Barbara E. Neubarth (coordenadora da Oficina).
Equipe da Oficina de Criatividade (2015): Aline Dallagnese, Clara Grassi, Daniela Gaviraghi, Giselle Sanches, Itapa Rodrigues, Maria Aparecida Osório, Neusa Helena Carvalho Viapiana, Samanta Andreolli e Vanessa Manzke.

Amanhã, 16 de julho, às 17h30min, os integrantes desta Oficina estarão no APERS para apresentarem seus trabalhos.

Venha prestigiar!



Cinema no Arquivo: Curta no Almoço
15/07/2015
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Na próxima quarta-feira, dia 22 de julho, a partir das 12h, teremos o Curta no Almoço com projeção dos filmes A Concha e o Clérigo (Le Coquille et Clergyman), de Germaine Dulac, e Madame Tuti-Putli, de Chris Lavis e Maciek Szczerbowski no Auditório Marcos Justo Tramontini do Arquivo Público do RS.

A entrada é franca, venha prestigiar!

Sinopses:

Le Coquille et Clergyman (1928, França) é um filme surrealista de Germaine Dulac, inspirado num texto homônimo de Antonin Artaud. A trama gira em torno de um padre obcecado pela esposa de um general. O clérigo passa a ter visões estranhas sobre a morte e acaba lutando contra o próprio erotismo. (Fonte aqui)

2015.07.15 Curta Le Coquille et Clergyman
2015.07.15 Curta Madame Tutli-Putli

A madame Tutli-Putli (2007, França) embarca num trem noturno carregando todos os seus pertences, incluindo os fantasmas de seu passado. Ela viaja sozinha e encara, ao mesmo tempo, a bondade de alguns e o perigo iminente representado em outros. Quando o dia vai clareando, madame Tutli-Putli descobre-se numa aventura desesperada e metafísica. Vagando entre o real e o imaginário, ela confronta seus demônios numa corrente de mistério e suspense. (Fonte aqui)


É amanhã! Cinema no Arquivo com a projeção do filme holandês O Ilusionista
15/07/2015
arquivopublicors Cinema no Arquivo Ana Carolina da Costa, APERS, Arquivo Público do RS, Cinema no Arquivo, Espaços Culturais APERS, Eventos, Jos Stelling, O Ilusionista Deixe um comentário

2015.07.15 Cinema O IlusionistaVenha prestigiar mais um evento cultural no Auditório Marcos Justo Tramontini, do Arquivo Público do RS. Amanhã, 16 de julho de 2015, às 18h30min, teremos a projeção do filme O Ilusionista.

Ao final da exibição, haverá debate com a Doutora Ana Carolina da Costa e Fonseca, Professora de Filosofia na Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

A entrada é franca!
Certificado de 4h.

Participe!

Confira a sinopse e o trailer do filme abaixo:

Drama, com toques de humor, que narra a vida de dois irmãos que vivem em uma região pacata da Holanda. Um deles sonha com as luzes da ribalta e com a possibilidade de ser um ‘show-man’. O outro, deficiente mental, se satisfaz com sua rotina tranquila, cômoda, onde possa ser apenas o que é. Numa analogia à história de Caim e Abel, o roteiro mostra a inevitabilidade dos conflitos entre os dois para que possam realizar seus respectivos desejos. Sem diálogos, o roteiro exprime com brilhantismo o mundo desses dois irmãos, marcado pelos sussurros, grunhidos e lamentações.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Cinema no Arquivo - O Ilusionista, de Jos Stelling, e as duas faces da loucura no cinema


Na próxima semana, dia 16 de julho, às 18h30min, no Auditório Marcos Justo Tramontini – APERS, o Cinema no Arquivo exibirá o filme O Ilusionista, do diretor holandês Jos Stelling. Produzido em 1984, foi o grande vencedor do Prêmio do Público da 9ª Mostra de Cinema de São Paulo, em 1985. É um desses filmes que deve ser revisto de tempos em tempos, pois a cada observação mais se absorve das imagens, fazendo surgir novas impressões e interpretações devido à sua subjetividade.

O Grupo Dimensão Experimental apoia esta iniciativa do APERS, que apresenta filmes de alta qualidade proporcionando ao público, a possibilidade de ver películas que não estão no circuito neo-liberal e comercial dos Shopping Centers.

Não perca a possibilidade de viver esta experiência e venha assistir este inusitado filme. Logo após, haverá um debate com a filósofa Doutora Ana Carolina da Costa e Fonseca, professora de Filosofia na Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e de Filosofia do Direito na Faculdade do Ministério Público (FMP).

Outra novidade, é que o APERS e o Hospital Psiquiátrico São Pedro realizarão uma exposição dos trabalhos artísticos produzidos por três integrantes da Oficina de Criatividade da instituição sob coordenação da professora Barbara Neubarth.

Confira a sinopse:

Vencedor do Prêmio do Público da 9ª Mostra, esse drama, com toques de humor, narra a vida de dois irmãos, que vivem em uma região pacata da Holanda. Um deles sonha com as luzes da ribalta e com a possibilidade de ser um ‘show-man’. O outro, deficiente mental, se satisfaz com sua rotina tranquila, cômoda, onde possa ser apenas o que é. Numa analogia à história de Caim e Abel, o roteiro mostra a inevitabilidade dos conflitos entre os dois para que possam realizar seus respectivos desejos. Sem diálogos, o roteiro exprime com brilhantismo o mundo desses dois irmãos, marcado pelos sussurros, grunhidos e lamentações.

A entrada é franca e não exige inscrição prévia. Venha prestigiar mais um evento cultural do APERS!

Participe!

O Ilusionista, de Jos Stelling, e as duas faces da loucura no cinema

O Ilusionista, filme do diretor holandês, Jos Stelling, produzido em 1984, foi o grande vencedor do prêmio do Público da 9ª Mostra de Cinema de São Paulo. É um desses filmes que deve ser revisto de tempos em tempos, pois a cada observação mais absorvemos das imagens, fazendo surgir novas impressões e interpretações devido á sua subjetividade.


Sem diálogos, esta obra-prima da interpretação apresenta apenas som ambiente, vozes disformes, grunhidos etc. A música contribui com uma atmosfera tanto de forma diegética (quando o público e os personagens a ouvem) quanto não diegética (apenas o espectador a escuta) ou metadiegética (reforçando, em alguns casos, algum clímax ou elementos psicológicos de um personagem).



O trabalho de imagens é de tal forma sinalético e bem-apresentado que qualquer tentativa de explicar o que acontece na tela, por meio de palavras, tiraria toda a carga dramática e simbólica que norteiam as cenas. Encontramos salmos bíblicos em placas de ônibus, mensagens subliminares nos cenários, objetos com significados figurados, um outdoor cujo anúncio narra os sentimentos do personagem, linguagens corporais eficientes, gestos e expressões que nenhuma palavra poderia substituí-los de modo a representar melhor e mais fielmente o andamento da história.



Ao abordar duas possíveis faces da loucura, a do artista que é incompreendido na sociedade, pois não se enquadra nos supostos padrões de normalidade, e a do doente mental, cujo preconceito e intolerância segrega, Stelling aproxima-se de Michel Foucaut em sua obra “A História da Loucura”, em que descreveu o fenômeno da loucura desde o Renascimento até a Modernidade, demonstrando o processo pelo qual o louco foi perdendo, com o advento da psiquiatria e da higienização social, sua identidade e sua cidadania, não sendo dono de seu próprio pensamento e comportamento. Wilhelm Reich, em “O Assassinato de Cristo”, descreve esta mesma sociedade como uma prisão onde o louco seria aquele que viu a saída da prisão e não conseguiu superar o pavor comum de se aproximar dela.



Em O Ilusionista, cada cena é precisamente medida e explorada através da linguagem não verbal, como uma aula de comunicação universal. Este filme resgata parte da magia do cinema silencioso, indo muito além do que simplesmente contar uma história, questiona os parâmetros da dita normalidade de uma maneira nunca antes retratada em uma película.


Por: Klaus Farina – Músico, Compositor, Historiador, Produtor e Técnico Em Assuntos Culturais

quinta-feira, 9 de julho de 2015

O Golem no Clube de Cultura hoje


Dando continuidade ao projeto Cinema Livre, hoje no Clube de Cultura, rua Ramiro Barcelos 1853, vai ser apresentado, a partir das 19h30min, um clássico do cinema expressionista alemão da década de 1920. A entrada é franca.

O expressionismo alemão foi um estilo cinematográfico cujo auge se deu na década de 1920, que caracterizou-se pela distorção de cenários e personagens, através da maquiagem, dos recursos de fotografia e de outros mecanismos, com o objetivo de expressar a maneira como os realizadores viam o mundo.


O grupo Dimensão Experimental apoia mais esta iniciativa do Clube de Cultura. Abaixo reproduzimos uma excelente matéria produzida e publicada por Rogério de Moraes, repórter, redator e crítico de cinema no Blog Eu Cinema.

O Golem (1920)

Considerado uma das obras fundamentais do cinema expressionista alemão, “O Golem” é um filme que preserva grande parte de sua força até os dias atuais. Produzido em 1920 e dirigido pela dupla Paul Wegener e Carl Boese, impressiona pela fotografia e pela ousadia em seus efeitos especiais.


Vem da mitologia judaica a lenda do Golem. Uma criatura de pedra ou de cera com grande força e poder. Essa criatura pode ser “despertada” através de rituais de magia e servir ao povo judeu como seu protetor.

No filme de Wagener e Boese, uma comunidade judaica, da cidade de Praga, é ameaçada por um decreto do imperador. O respeitado Rabbi Loew, conhecido por ser um poderoso feiticeiro, recorre à antiga magia para dar vida à criatura Golem, na tentativa de salvar seu povo da desgraça.

Para realizar seu feito, Loew recorre às forças das trevas. Na ânsia de realizar a magia, ignora os riscos de se lidar com forças tão instáveis. Consegue dar vida á sua criatura. Realizado o feito, segue com ela até o palácio do imperador. Busca impressionar monarca e convencê-lo a voltar atrás em seu decreto.


Para muitos, “O Golem” é o mais antigo filme de monstro preservado até hoje. Existiu uma versão anterior, dirigida por Wegener em parceria com Henrik Galeen em 1915, mas esta não sobreviveu até os dias atuais. Nesta versão de 1920, os recursos empregados em algumas cenas são de uma qualidade e criatividade rara para a época.

Os efeitos da sequência em que Loew evoca as forças sobrenaturais são muito bem trabalhados e criam uma convincente atmosfera de magia. Em outro momento, quando o Rabbi conta a história de seu povo para a corte do imperador, através da mágica, abre-se uma janela sobreposta com imagens do Êxodo. Este efeito cria um resultado impressionante que muitos filmes atuais não conseguem criar.


Não são apenas os efeitos visuais que impressionam em “O Golem”. O filme possui também um roteiro de ótima qualidade, com suspense e reveses na trama. O fato de a criatura, em determinado momento, não mais obedecer a seu criador ao tomar consciência de sua existência, é um elemento que enriquece a trama. O resultado disso é a inevitável tragédia.

“O Golem” dialoga diretamente com “Frankenstein”, de Mary Shelley, clássico da literatura inglesa. Os desdobramentos do filme levam a uma reflexão sobre as consequências de se evocar forças sobrenaturais. Também não deixa de ser uma metáfora dos riscos de se “brincar” de Deus, dando vida a algo inanimado, exatamente como no livro de Shelley. No filme, a referência bíblica fica evidente pelo fato de o Golem ser feito de barro.


No final, o mal maior é evitado pela mais improvável das forças. É através da ingenuidade de uma criança que ele será detido. Um desfecho que guarda em si uma notória poesia.

“O Golem” é um filme que precisa ser resgatado e valorizado. Quando se fala em cinema expressionista alemão, são sempre as mesmas obras levantadas como clássicas. É claro que filmes como “Nosferatu”, “O Gabinete do Dr. Caligari”, “M - O Vampiro de Dusseldorf”, são obras memoráveis e grandiosas, importantíssimas para história e evolução da linguagem do cinema. Por outro lado, é sempre importante lembrar que esta fase áurea do cinema alemão não se resume a esses filmes. “O Golem” é um bom exemplo disso.

POR: ROGÉRIO DE MORAES http://blogeucinema.blogspot.com.br/2011/01/o-golem.html