sexta-feira, 10 de julho de 2015

Cinema no Arquivo - O Ilusionista, de Jos Stelling, e as duas faces da loucura no cinema


Na próxima semana, dia 16 de julho, às 18h30min, no Auditório Marcos Justo Tramontini – APERS, o Cinema no Arquivo exibirá o filme O Ilusionista, do diretor holandês Jos Stelling. Produzido em 1984, foi o grande vencedor do Prêmio do Público da 9ª Mostra de Cinema de São Paulo, em 1985. É um desses filmes que deve ser revisto de tempos em tempos, pois a cada observação mais se absorve das imagens, fazendo surgir novas impressões e interpretações devido à sua subjetividade.

O Grupo Dimensão Experimental apoia esta iniciativa do APERS, que apresenta filmes de alta qualidade proporcionando ao público, a possibilidade de ver películas que não estão no circuito neo-liberal e comercial dos Shopping Centers.

Não perca a possibilidade de viver esta experiência e venha assistir este inusitado filme. Logo após, haverá um debate com a filósofa Doutora Ana Carolina da Costa e Fonseca, professora de Filosofia na Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e de Filosofia do Direito na Faculdade do Ministério Público (FMP).

Outra novidade, é que o APERS e o Hospital Psiquiátrico São Pedro realizarão uma exposição dos trabalhos artísticos produzidos por três integrantes da Oficina de Criatividade da instituição sob coordenação da professora Barbara Neubarth.

Confira a sinopse:

Vencedor do Prêmio do Público da 9ª Mostra, esse drama, com toques de humor, narra a vida de dois irmãos, que vivem em uma região pacata da Holanda. Um deles sonha com as luzes da ribalta e com a possibilidade de ser um ‘show-man’. O outro, deficiente mental, se satisfaz com sua rotina tranquila, cômoda, onde possa ser apenas o que é. Numa analogia à história de Caim e Abel, o roteiro mostra a inevitabilidade dos conflitos entre os dois para que possam realizar seus respectivos desejos. Sem diálogos, o roteiro exprime com brilhantismo o mundo desses dois irmãos, marcado pelos sussurros, grunhidos e lamentações.

A entrada é franca e não exige inscrição prévia. Venha prestigiar mais um evento cultural do APERS!

Participe!

O Ilusionista, de Jos Stelling, e as duas faces da loucura no cinema

O Ilusionista, filme do diretor holandês, Jos Stelling, produzido em 1984, foi o grande vencedor do prêmio do Público da 9ª Mostra de Cinema de São Paulo. É um desses filmes que deve ser revisto de tempos em tempos, pois a cada observação mais absorvemos das imagens, fazendo surgir novas impressões e interpretações devido á sua subjetividade.


Sem diálogos, esta obra-prima da interpretação apresenta apenas som ambiente, vozes disformes, grunhidos etc. A música contribui com uma atmosfera tanto de forma diegética (quando o público e os personagens a ouvem) quanto não diegética (apenas o espectador a escuta) ou metadiegética (reforçando, em alguns casos, algum clímax ou elementos psicológicos de um personagem).



O trabalho de imagens é de tal forma sinalético e bem-apresentado que qualquer tentativa de explicar o que acontece na tela, por meio de palavras, tiraria toda a carga dramática e simbólica que norteiam as cenas. Encontramos salmos bíblicos em placas de ônibus, mensagens subliminares nos cenários, objetos com significados figurados, um outdoor cujo anúncio narra os sentimentos do personagem, linguagens corporais eficientes, gestos e expressões que nenhuma palavra poderia substituí-los de modo a representar melhor e mais fielmente o andamento da história.



Ao abordar duas possíveis faces da loucura, a do artista que é incompreendido na sociedade, pois não se enquadra nos supostos padrões de normalidade, e a do doente mental, cujo preconceito e intolerância segrega, Stelling aproxima-se de Michel Foucaut em sua obra “A História da Loucura”, em que descreveu o fenômeno da loucura desde o Renascimento até a Modernidade, demonstrando o processo pelo qual o louco foi perdendo, com o advento da psiquiatria e da higienização social, sua identidade e sua cidadania, não sendo dono de seu próprio pensamento e comportamento. Wilhelm Reich, em “O Assassinato de Cristo”, descreve esta mesma sociedade como uma prisão onde o louco seria aquele que viu a saída da prisão e não conseguiu superar o pavor comum de se aproximar dela.



Em O Ilusionista, cada cena é precisamente medida e explorada através da linguagem não verbal, como uma aula de comunicação universal. Este filme resgata parte da magia do cinema silencioso, indo muito além do que simplesmente contar uma história, questiona os parâmetros da dita normalidade de uma maneira nunca antes retratada em uma película.


Por: Klaus Farina – Músico, Compositor, Historiador, Produtor e Técnico Em Assuntos Culturais

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