quinta-feira, 23 de julho de 2015

Fausto de Murnau no Clube de Cultura hoje - entrada franca


Hoje o Clube de Cultura de Porto Alegre, rua Ramiro Barcelos, 1853, a partir das 19 horas e 30 minutos, apresenta mais uma edição do projeto Cinema Livre com o filme Fausto de F. W. Murnau, baseado na obra de Goethe.

O grupo Dimensão Experimental apoia esta iniciativa do Clube de Cultura de Porto Alegre que possibilita ao público a oportunidade de ver filmes mudos de alta qualidade artística, passando longe dos enjoados, comerciais e neo-liberais filmes dos higienizados e sem graça Shoppings Centers de Porto Alegre..


Baseado na famosa peça de Goethe, temos Fausto, um velho alquimista que vê sua cidade ser assolada pela peste negra. Vendo tanta morte, começa a pensar sobre sua própria finitude. Ele então evoca Mefistofeles, e lhe pede sua juventude de volta e eterna. O demônio a garante, em troca da alma de Fausto. Tudo parecia perfeito, até este se apaixonar por uma jovem italiana. Marco absoluto no cinema alemão, é o último filme de Murnau no país.

DIREÇÃO: F.W. Murnau
GÊNERO: Drama / Fantasia / Terror
ANO: 1926
GÊNERO:
Gösta Ekman
Frida Richard
Camilla Horn
Emil Jannings
William Dieterle


Em 1926 Murnau trouxe ao cinema a alegoria de Fausto, o homem que se deixou tentar pelo demónio, numa produção de enorme beleza cénica. Tal seria a mais cara produção da UFA até “Metrópolis”, de Fritz Lang, com Murnau usando duas câmaras, ambas filmando diferentes planos e “takes”. Existiram mesmo diferentes variantes do filme, algumas preparadas pelo próprio Murnau, das quais restam hoje ainda cinco.
Assumindo desde o primeiro instante todo o carácter simbólico da história, ficam na memória momentos iniciais onde o bem e o mal são dispostos num jogo de luz e sombras, onde vemos os cavaleiros do apocalipse, a sombra de demoníaca sobre a cidade (de enorme beleza estética), e as pregações de Fausto. Cada cena funciona como um quadro religioso, tal o cuidado com que cada personagem é disposto na tela. Esse é o tom que marcará o resto do filme, fiel às características expressionistas, onde o detalhe cénico se esbate num jogo de luzes sombras.
O tema da fé será central à história, mas se é fundamental no plano terreno, onde a peste é vista como uma provação de Deus (“quem tem fé viverá, mas a morte irá levar os pecadores”), no plano espiritual serão as acções (o sacrifício de amor de Fausto por Gretchen) que irão salvar a sua alma da danação eterna. Pode ainda ver-se esta dicotomia como um conflito entre a tradição cristã (medieval, conservadora) e o modernismo, onde tal como Fausto, devemos convidar o mal, para podermos fazer o bem. Note-se como este Fausto, cedendo às trevas, buscará a luz em Gretchen, que vê pela primeira vez, iluminada na igreja.
Narrado a com um ritmo impetuoso, o filme brilha pelo cuidado colocado em cada plano, e pelo uso das sombras, que tornam cada cena, seja um interior, ou um exterior, de enorme beleza artística, como se de uma pintura se tratasse, visualmente caminhando numa linha subtil entre o estilizado e o realista.
O filme brilha ainda pelas interpretações de Emil Jannings, que compõe um demónio manipulador, astuto, mas ainda assim sedutor, e de Gösta Ekman, no papel do anti-herói, bem intencionado, mas atormentado pelas consequências das suas decisões.
Para muitos trata-se do melhor filme de Murnau, superior mesmo ao comercialmente mais famoso “Nosferatu”. É sem dúvida uma lição de bem filmar, que elevou imenso o patamar do cinema.

Fonte:Blog A Janela Encantada
https://ajanelaencantada.wordpress.com/2013/02/25/fausto-1926/

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